05/03/2010 – CLIPPING EDUCACIONAL
NOTÍCIAS – FIQUE POR DENTRO |
05 DE MARÇO DE 2010
JORNAL DA TARDE
Crianças ainda esperam vagas
Um mês depois do início das aulas, Prefeitura e Estado não deram conta de todas as solicitações
Fábio Mazzitelli
Quase um mês após o início das aulas na rede pública da capital, Prefeitura e Estado ainda não conseguiram acomodar todas as crianças que pedem vaga no ensino fundamental, etapa em que a matrícula é obrigatória e garantida pela Constituição. Em alguns casos, a família ficou mais de três meses à espera da vaga. Os governos negam o déficit, mas admitem falhas no sistema de matrículas compartilhadas entre as redes.
Além de direito constitucional, a Lei de Diretrizes e Bases da educação prevê a possibilidade de as autoridades competentes responderem por crime de responsabilidade se as matrículas das crianças não forem feitas. As aulas na Prefeitura começaram em 8 de fevereiro e no Estado, no dia 18.
“Até por isso é muito improvável que (a criança) fique sem vaga. Perder uma semana de aula que seja já é grave e passível de pedido de indenização pelo dano educacional”, afirma a advogada Ester Rizzi, da ONG Ação Educativa.
Daphne Andrade dos Santos, de 8 anos, está na 3ª série, atual 4º ano, e até ontem aguardava vaga na capital - sua matrícula só foi confirmada ontem após o contato do Jornal da Tarde com os governos estadual e municipal.
Ex-moradora de Franco da Rocha, Grande São Paulo, a família de Daphne se mudou para o Jaraguá, zona norte, e iniciou em novembro o contato para a matrícula na escola municipal Pirituba I.
Apesar de os pais seguirem as orientações do colégio, e de a diretora ter feito promessa de matrícula para “depois do carnaval”, não houve retorno até ontem. O pai da criança, o técnico de informática Marcos André dos Santos, 32 anos, protocolou então pedido de matrícula no Ministério Público em 25 de fevereiro. “Prestes a ter bebê, ela ficava no telefone porque o pessoal não dava uma resposta”, conta Santos.
Enquanto ficou sem escola, Daphne passou os dias brincando no condomínio, ajudou mãe a cuidar da irmã recém-nascida e leu histórias em quadrinhos. A mochila rosa nova, um presente da tia, já está com o caderno novo, em branco. “Quero ir para escola o mais rápido possível”, diz Daphne, a melhor aluna da turma no ano passado, segundo os pais.
Com a demora, os pais cogitaram até mesmo pagar um colégio particular. “Se não estivesse com a dívida da casa, já estaria pagando”, diz o pai.
Promotor da Infância que recebeu o pedido de Daphne, Francismar Lamenza relata que cerca de 20% dos pedidos de vagas que recebe são relativas ao ensino fundamental - o restante é creche. “São uns 2 a 3 pedidos por dia”, diz.
Na zona sul, situação parecida viveu Iohana Aparecida Santana, 14 anos. Ela saiu de Embu para viver com a avó em Americanópolis. Está na 8ª série (9º ano). “Desde outubro, fui a seis escolas, estaduais e municipais, e nada”, diz a avó Maria Flora Oliveira Santana, 52, que procurou a Defensoria Pública. Ela também conseguiu a vaga apenas ontem.
Segundo o defensor Flávio Frasseto, os problemas para acomodação da demanda no fundamental ocorrem desde 2009. “Dizem que é pontual, mas não é bem assim. É desrespeito. Tem que arrumar vaga antes de iniciar o ano letivo”.
Direito à educação
A partir dos 6 anos, quando começa o ensino fundamental, a família tem a obrigação de matricular a criança e o Estado tem o dever de acolhê-la na escola. Toda criança tem direito à educação
Na capital paulista, as vagas no fundamental são divididas entre Estado e Prefeitura. Para dimensionar a demanda e planejar a rede pública, a matrícula é unificada e feita no segundo semestre, mas a qualquer momento a família pode pleitear vaga em escola pública.
Para casos emergenciais de criança que ainda aguarda vaga na rede da capital, a Secretaria Estadual da Educação pede que as famílias entrem em contato pelo telefone 0800 77 000 12 ou pelo e-mail infoeducacao@educacao.sp.gov.br. A partir do contato, a promessa é de vaga em até 48 horas
Se o problema persistir, os pais podem acionar as ouvidorias do Estado (www.ouvidoria.sp.gov.br) ou da Prefeitura (0800 17 5717), ou ainda procurar o Ministério
Público Estadual ou a Defensoria Pública do Estado.
Estado admite falhas e vai revisar sistema de matrícula
Prefeitura e Estado afirmam que os problemas de espera por matrícula no ensino fundamental na rede pública da capital são pontuais e que não há falta de vagas. Ontem, porém, a Secretaria Estadual da Educação reconheceu “falhas” no sistema de compartilhamento de matrículas entre as redes municipal e estadual e prometeu mudanças para 2011.
Segundo o secretário adjunto de educação do Estado, Guilherme Bueno, a divisão de matrículas atual será revista em, pelo menos, dois pontos. Um deles é o software que cadastra e matrícula os estudantes – hoje, o Estado trabalha em uma plataforma e a Prefeitura, em outra. O outro ponto é o cronograma de matrícula unificada, que atualmente começa em agosto e termina em novembro.
“Devemos alongar o período, talvez até janeiro, para fazer uma acomodação mais rápida”, diz Bueno. “Hoje, as inscrições após o período regular não dependem do sistema, são quase manuais.”
Para o secretário adjunto, a implantação na rede pública da capital do ensino fundamental de 9 anos em 2010 foi um “fator complicador” para a matrícula unificada, sistema em vigor desde 1999.
“Temos que atender uma demanda maior”, justifica. “Mas deixo claro que temos vagas para todos alunos. É problema pontual.”
Para resolver os casos emergenciais deste ano, a pasta estadual pôs o telefone 0800 da pasta (0800-7700012) à disposição. A promessa é resolver os casos informados em dois dias. “Há crianças que não estão ainda (na escola). Os pais podem ligar e nos comprometemos em 48 horas a colocar essa criança numa escola, estadual ou municipal”, disse o secretário ao SPTV, da Rede Globo.
O secretário municipal de educação, Alexandre Schneider, disse que é “comum, infelizmente,” que crianças fiquem à espera de vaga com as aulas iniciadas. “Cada problema para nós é relevante porque tem lá uma criança que tem o direito de matrícula.” F.M.
O ESTADO DE SÃO PAULO
STF promove último dia de audiência pública sobre cotas raciais
Juristas colhem opinião de diversos setores da sociedade para decidir duas ações movidas sobre o sistema
AGENCIA ESTADO
BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal (STF) realiza nesta sexta-feira, 5, o último dia de audiência pública sobre as políticas de cotas no ensino superior. A decisão do STF de abrir o debate surgiu para ajudar a julgar duas ações movidas sobre o sistema de cotas nas universidades públicas.
Em uma delas o DEM questiona os critérios raciais utilizados desde 2004 pela Universidade de Brasília (UnB) para a admissão de estudantes pelo sistema de cotas. A outra foi apresentada por um estudante que se sentiu prejudicado pelo mesmo sistema adotado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Durante este último dia de audiência pública do STF, especialistas vão apresentar suas opiniões sobre o sistema de cotas nas universidades. Na abertura, o professor da Universidade de São Paulo (USP) Fábio Konder Comparato fala sobre educação e cidadania de afrodescendentes e carentes. Depois. será a vez da professora Flávia Piovesan, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, explicar a compatibilidade das cotas com o sistema constitucional brasileiro.
O representante da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) Marcos Antonio Cardoso defende, durante a manhã, as políticas de ação afirmativa. Em seguida, o juiz da 2ª Vara Federal de Florianópolis Carlos Alberto da Costa Dias fala sobre a dificuldade de identificação do negro.
O representante do Movimento Pardo-Mestiço Brasileiro (MPMB) e da Associação dos Caboclos e Ribeirinhos da Amazônia (ACRA) Helderli Fideliz Castro de Sá Leão Alves explica durante a audiência os sistemas classificatórios de cor, raça e etnia.
No período da tarde, entidades de ensino de vários estados, dirigentes de escolas e alunos vão apresentar suas posições. O debate vai até às 16h.
Inflação oficial acelera para 0,78% em fevereiro, maior taxa em 21 meses
Índice é pressionado especialmente pelos reajustes nas mensalidades escolares; no primeiro bimestre, o IPCA acumula alta de 1,54%
JACQUELINE FARID, DA AGÊNCIA ESTADO
RIO - A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,78% em fevereiro, ante 0,75% em janeiro, segundo divulgou nesta sexta-feira, 5, o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da maior taxa mensal apurada pelo IBGE desde maio de 2008 (0,79%). O índice de fevereiro de 2010 foi pressionado especialmente pelos reajustes nas mensalidades escolares. O grupo Educação registrou alta de 4,53% no mês, contribuindo sozinho com 0,32 ponto porcentual, ou 41% da taxa.
O resultado do IPCA de fevereiro veio dentro do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções (0,70% a 0,85%), com mediana de 0,81%. No primeiro bimestre, o IPCA acumula alta de 1,54% e em 12 meses, de 4,83%.
A coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, destacou que a taxa de fevereiro representou a maior variação apurada para meses de fevereiro desde 2003 (1,57%). Segundo ela, o "padrão da inflação" no primeiro bimestre deste ano está "significativamente superior" a igual período do ano passado e essa aceleração está relacionada ao crescimento da economia.
Eulina salientou também a aceleração da inflação apurada em 12 meses, de 4,31% em dezembro para 4,59% em janeiro e 4,83%
No mês passado, os alimentos prosseguiram em trajetória de alta, mas com desaceleração ante o mês anterior. O grupo de alimentos e bebidas registrou variação de 0,96% em fevereiro, ante 1,13%
Inflação da baixa renda desacelera
O INPC, que mede a inflação para a camada de renda mais baixa da população, ficou em 0,70% em fevereiro, ante 0,88% em janeiro, segundo o IBGE. No ano, o INPC acumula variação de 1,59% e em 12 meses, de 4,77%. O INPC refere-se às famílias com renda de um a seis salários mínimos, enquanto o IPCA apura as variações de preços para famílias com renda de um a 40 salários mínimos.
CORREIO DA MANHÃ
Confap entregou proposta no Ministério da Educação
Pais querem retirar apoios sociais a alunos violentosA Condeferação Nacional das Associações de Pais (CONFAP) entregou na quinta-feira uma proposta no Ministério da Educação na qual defende a retirada dos apoios sociais a alunos violentos e uma revisão do Estatuto do Aluno.
Em declarações à TSF, o presidente da CONFAP, Albino Almeida, sustentou que "a proposta visa que os pais recebam, através de regulamentos internos, a indicação das escolas de que se não comparecerem e não se responsabilizarem pelos seus filhos, poderão ter consequências no plano dos apoios que recebem, nomeadamente subsídios. Se os pais não tiverem esses subsídios, devem decretar trabalho social na própria escola, por exemplo, até chegar às multas. Tudo depende da situação económica".
Esta proposta surge na sequência das denúncias de uma escola em Mirandela onde os alunos serão vítimas constantes de violência. Por outro lado, o Ministério da Educação ainda não tomou uma posição sobre esta proposta que deverá estar a ser analisada.
04 DE MARÇO DE 2010
FOLHA DE SÃO PAULO
A hora da educação
Relatório do governo revela avanços lentos no ensino na última década; faltam objetivos claros para políticas públicas
É PREOCUPANTE , embora não surpreenda, o balanço apresentado em relatório do governo federal sobre o desempenho da educação brasileira na última década. Encomendado pelo ministro Fernando Haddad, o documento revela que apenas 33% das 294 metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação, de 2001, haviam sido cumpridas em 2008, último ano com dados consolidados no estudo.
É um resultado desalentador para uma sociedade que só agora vai alcançando o consenso necessário acerca da importância da educação para enfrentar seus desafios, do potencial de crescimento econômico à violência urbana -ao mesmo tempo em que se dá conta de oportunidades desperdiçadas.
Fica claro que o país não foi capaz, nesse período, de diminuir a evasão no ensino médio, conter de maneira satisfatória as taxas de repetência e ampliar tanto quanto seria recomendável o acesso à universidade. Cada uma dessas falhas cobrará o seu preço nos próximos anos, e será mais lento o ritmo em que o país caminhará na direção de melhores condições sociais, com a necessária redução das desigualdades.
Ao mesmo tempo foram tantos os objetivos definidos em 2001, que a taxa de cumprimento das metas precisa ser analisada com cautela. Faltou ao plano identificar prioridades, estabelecer metas passíveis de serem acompanhadas por indicadores confiáveis e, em alguns casos, uma perspectiva mais realista.
Chama a atenção, por exemplo, o projeto de matricular, em uma década, metade das crianças de zero a três anos em creches. Em relatório de 2005, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que congrega países industrializados, listava apenas Dinamarca e Islândia, em uma lista de 28 nações, como cumpridoras desse louvável objetivo.
Esse tipo de irrealismo acaba por obscurecer conquistas do período, quando o país dobrou a parcela de crianças de zero a três anos na escola -de 9% para 18%.
Os resultados positivos, no entanto, não são capazes de dissipar a impressão geral negativa propiciada pelo estudo. O Brasil avançou pouco, e por vezes retrocedeu, em índices educacionais importantes. O gasto total com educação ficou estagnado em cerca de 5% do PIB até 2007. A parcela de jovens entre 15 e 17 anos no ensino médio passou de pífios 45,4%, em 2001, para 50,4%, em 2008.
É preciso não só melhorar os indicadores, mas fazê-lo em ritmo muito mais intenso. O país discutirá em 2010 seu novo Plano Nacional de Educação, que fixará objetivos para os próximos dez anos. É uma oportunidade para elaborar diretrizes mais precisas, estabelecer prioridades claras e criar incentivos ao cumprimento de metas que possam ser acompanhadas com mais precisão e regularidade.
UM AUMENTO no PIB de 5% nunca seria considerado "sutil" por qualquer órgão de imprensa, menos ainda em uma chamada de primeira página. Entretanto, esse adjetivo foi usado para caracterizar o avanço dos estudantes da quarta série da rede estadual paulista.
Esse foi o percentual de aumento no índice de proficiência dos alunos dessa série em 2009 em relação ao ano anterior, medido pelas provas de avaliação dos alunos (Saresp), em língua portuguesa e matemática. Além disso, a Secretaria da Educação calcula o Idesp, que combina os resultados do Saresp com a evolução dos indicadores de aprovação, repetência e evasão das escolas. No primeiro ciclo do ensino fundamental, o aumento do Idesp em um ano foi ainda mais expressivo: 18,4%. Melhora "sutil"?
Não quero minimizar os problemas da educação em nosso país ou no Estado. Desde que fui secretário da Educação, no governo Montoro, depois reitor da Unicamp e ministro da Educação a partir de 1995, a luta por melhoria da qualidade da escola pública tem sido minha obsessão. Não estamos satisfeitos com a qualidade de nossa educação. Mas, por isso mesmo, devemos comemorar, em vez de negar de maneira sensacionalista, o avanço alcançado em São Paulo.
É uma brutal infâmia afirmar que o Estado culpa professores por nota baixa dos alunos. A equipe que assumiu a Secretaria da Educação desde o início do atual governo considera que os professores são vítimas de um sistema de formação docente que privilegia o teórico e o ideológico em detrimento do conteúdo e da didática.
Para superar as lacunas na formação dos professores, e não culpá-los por essa deficiência, a secretaria, desde 2007, desenvolveu todas as ações voltadas para o apoio ao trabalho do professor em seu dia a dia, a fixação de metas e objetivos de melhoria da qualidade do ensino e o oferecimento de estímulos ao aperfeiçoamento dos professores, tudo tendo como base os conteúdos do currículo do Estado.
As primeiras ações, baseadas no currículo, se organizaram em torno de dois programas: o Ler e Escrever e o São Paulo Faz Escola. Os professores passaram a ser apoiados com materiais para eles e para os alunos.
Até o presente, mais de 192 milhões de exemplares foram enviados às escolas. Esse conteúdo também serve de base para constantes cursos de aperfeiçoamento e atualização. Além disso, nas primeiras séries, alocamos professores auxiliares para ajudar nas tarefas do letramento.
Uma grande inovação foi o estabelecimento de metas concretas a serem alcançadas até 2010. E as metas anuais daí decorrentes têm sido superadas a cada ano. Seu mérito está em priorizar a aprendizagem dos alunos, buscando trazer para dentro das salas de aula os resultados do sistema de avaliação. Esse processo alimenta o sistema de bônus por resultados. Cada escola é comparada com ela mesma e, quanto maior o seu avanço, melhor é o prêmio. Em 2009, 196 mil servidores, entre professores e funcionários, receberam o bônus, e metade deles ganhou dois ou mais salários.
Dando continuidade às mudanças, passamos a fortalecer a carreira e estimular o aperfeiçoamento dos professores, a começar pela mudança do sistema de ingresso. Após a seleção em concurso público, o professor deverá ser aprovado em curso de quatro meses na Escola de Formação de Professores, recém-criada.
O primeiro concurso nas novas regras será no dia 28 de março e terá 261 mil candidatos disputando as 10 mil vagas que são inicialmente oferecidas. Ademais, criamos um exame a que todos os professores temporários devem se submeter. A atribuição de aulas de 2010, pela primeira vez no Estado, já levou em conta os resultados dessa prova.
A carreira docente foi modificada para tornar-se mais atraente e valorizar o mérito do professor. O primeiro concurso de promoção, que haverá de aumentar em 25% os salários de 44 mil professores, já foi realizado e contou com a participação de mais de 93 mil docentes.
Um benefício colateral, ainda não destacado, decorre da realização de provas para os professores. Entre o exame de temporários e o concurso de promoção, podemos assegurar que mais de 170 mil dos nossos 220 mil professores se submeteram a um exame nos últimos três meses. Estudaram e se prepararam para as provas.
Claro que sindicatos engajados em políticas eleitorais não gostam disso.
Para os detratores e seus porta-vozes, esta verdade parece insuportável: nossas crianças e adolescentes serão as grandes beneficiárias da renovação de conhecimentos, bem como de todas as medidas que visam a premiar o mérito e fortalecer nosso magistério.
FOLHA DE SÃO PAULO
Novo plano prevê até 2020 erradicação do analfabetismo
Ministro diz que pediu revisão do balanço do plano atual que apontou só 33% de metas cumpridas
ANGELA PINHO
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A proposta para o novo Plano Nacional de Educação feita pelo Conselho Nacional de Educação prevê a erradicação do analfabetismo até 2020, tarefa que o atual plano ficou longe de cumprir. O analfabetismo funcional também terá de ser extinto pelo novo PNE, que norteará a educação no país por dez anos (2011-2020).
A proposta ainda será discutida na Conferência Nacional de Educação, que ocorre no fim de março e que levará subsídios ao projeto que o MEC enviará ao Congresso.
A Folha adiantou ontem que, assim como a erradicação do analfabetismo, dois terços das metas não foram cumpridas do atual PNE, que abrange o período de 2001-2010. Relatório feito por pesquisadores de universidades federais apontou que só 33% das metas foram alcançadas. O país ainda tem 14 milhões de analfabetos.
Outra prioridade que entrará no novo plano será a elevação dos investimentos em educação, que passarão a equivaler a 10% do Produto Interno Bruto até 2014. Em 2007, dado mais recente disponível, o percentual ficou em 5,1% ou 4,7%, dependendo da forma de cálculo.
Fernando Haddad (Educação) disse que pediu ao Inep, órgão ligado à pasta, para atualizar e revisar o balanço do PNE encomendado aos pesquisadores. O ministro contestou um dado do relatório relativo à repetência no ensino fundamental: o trabalho diz que ela cresceu, mas dados do Inep apresentados por Haddad apontam que caiu de 21,7% para 13% de 2000 a 2008.
Haddad fez ressalva também em relação à educação superior. O PNE fixa que até 2010 o Brasil tenha 30% dos jovens de 18 a 24 matriculados nessa etapa. Em 2008, só tinha 13,7%. Para o ministro, a meta conta como não incluídos alunos abaixo de 24 anos que tenham acabado o ensino superior.
PORTAL APRENDIZ
Brasileiro gosta de ler, mas falta acesso
Desirèe Luíse
Os brasileiros letrados – 95 milhões – leem, em média, 1,3 livro por ano, revelou a última pesquisa do Instituto Pró-Livro, divulgada no final de 2009. Apesar disso, a coordenadora programática do Centro de Cultura Luiz Freire, Cida Fernandez, diz que é falsa a ideia de que o brasileiro não gosta de ler. Para ela, o problema é a falta de acesso à leitura. Ainda segundo a pesquisa, entre os leitores brasileiros, 75% disseram que sentem prazer em ler uma obra. Cida ressalta que a leitura de livros de ficção no país é ainda mais frágil. Para ela, um país mais literário pode trazer benefícios para a sociedade: “no mundo possível da ficção, o homem se encontra realmente livre para pensar, deixar a fantasia agir e, então, configurar alternativas para os problemas. Na literatura, ele se liberta do agir prático e da necessidade, daí sua possibilidade intrínseca de inclusão”.
Com o objetivo de incentivar ações que promovam a leitura de livros de literatura, nasceu o Movimento por um Brasil Literário. “Ler este gênero é um direito de todos e que ainda não está escrito”, revela o manifesto do movimento, que recentemente recebeu a adesão da escritora premiada Ana Maria Machado, eleita secretária geral da Academia Brasileira de Letras, e já contava com autores como Frei Beto, Marina Colasanti e Marisa Lajolo. Iniciativa do Instituto C&A, a campanha pela promoção da literatura no Brasil foi lançada oficialmente em junho de 2009, na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece todos os anos na cidade fluminense. Além do Centro de Cultura Luiz Freire, também faz parte da articulação do movimento a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Instituto Ecofuturo e a Associação Casa Azul, organizadora da Flip.
De acordo com Cida, é necessário investir em políticas públicas que ampliem o acesso aos livros. Baratear o custo das obras e aumentar o número de bibliotecas seria ações essenciais. O preço do livro “Tieta do Agreste”, por exemplo, custa aproximadamente R$ 70 em livrarias paulistas, quase 14% do salário mínimo brasileiro, os atuais R$ 510. A obra de Jorge Amado custaria mais barato se fosse comprado fora do país. Em La Paz, capital da Bolívia, sairia pelo equivalente a R$ 61. “Se tem acesso desde pequeno, vai gostar da literatura. Não tem acesso, por isso o sujeito não conheceu e não criou o hábito”, disse ela. A pesquisa do Instituto Pró-Livro sugere que a maior influência para a formação do hábito da leitura vem da família, o que explica o fato de 63% dos não leitores informarem nunca ter visto os pais lendo. Assim, além de ampliar o acesso ao livro, seria necessário investir na formação de leitores. Segundo Cida, há um problema cultural da não leitura, decorrência da falta de valorização do livro.
FOLHA DIRIGIDA
Que educação?
Antonio Luiz Mendes de Almeida
Li transversalmente o resultado de um relatório ou pesquisa em que os professores atribuíam as deficiências do ensino à falta de apoio das famílias e ao relaxamento dos alunos, se os termos não são esses, o sentido é. De cara, retiro da apreciação a evidente desculpa do mau profissional, do que desconhece seu mister e tenta justificar sua atuação deficiente. É princípio vestibulando que cabe ao mestre motivar seu aluno, tornar sua disciplina atraente, saber transmiti-la, o que, pelo que se evidencia, não acontece. Trazer as famílias para dentro da escola é tarefa das direções, mas me indago, sabendo a resposta, quantos desses dirigentes já foram às casas de seus discípulos, já tentaram conhecer o ambiente em que vivem, as dificuldades que passam? Tenho cinquenta e dois anos dentro de uma instituição de ensino e as dificuldades se repetem, entra ano, sai ano, levando ao desencanto aqueles que, um dia, prestaram um juramento e dedicaram seus esforços à missão - que é sagrada, embora o sindicato profissional repila a adjetivação - de ensinar, de oferecer-se e imolar-se para o bem do próximo, para seu crescimento e evolução.
Vivemos uma época em que se perderam todos os valores e, fundamentalmente, na escola, por ironia, mais se manifesta a falta de educação, com alunos desleixados, agressivos, dispersos, indolentes e, por vezes, viciados em drogas. O professor, porque de baixa formação, não se impõe, não inspira o respeito que sua tarefa reclama, não consegue ser o amigo e conselheiro, as relações se deterioram, criam-se campos adversos e prevalece a norma de "não me aborreça e eu não o aborrecerei", um perverso conluio que conduz à aprovação facilitada e à desconsideração com comezinhos princípios de convivência social que a família, por seu turno, também não sabe inocular porque, igualmente, não aprendeu. Quem trabalha na educação, ouvi de uma mãe, é um herói. Mas é herói o que foi bem preparado, que é vocacionado, que se atualiza, que traz a chama do ideal, que se consagrou à profissão, não os que estão por aí, diploma não querido na mão e enganando a juventude, de olho apenas em melhorias salariais. Há que se encontrar o vetor justo que saiba discriminar o verdadeiro professor do desajustado e aproveitador que fez um curso capenga depois de um vestibular que nada aferiu, já que sobravam vagas. Tenho defendido gratificações para os que estão em sala de aula, para os que se aperfeiçoam em cursos, para os que lecionam em locais de acesso difícil e, obviamente, um salário mais digno e atraente que possibilite seduzir os mais capazes.
Como vamos, dirigem-se aos falidos cursos de pedagogia ou de formação para o magistério apenas os que não têm outra opção para conseguirem um título de curso superior. Esta fornada apática, ignara, desmotivada, jamais poderá ensinar algo, nunca contribuirá para o soerguimento e redenção da aviltada educação nacional. É preciso deixar a educação para os reais educadores, não economizar recursos com nosso principal fator de enriquecimento e passaporte para o primeiro mundo, abandonar as picuinhas e permitir a liberdade de criação e de projetos que morrem esmagados pela burocracia estúpida ou pela vaidade tola. Como existem vaidosos na educação! Com seus anacolutos e citações pretendem demonstrar uma competência que não possuem e são, tenho certeza, incapazes de empunhar um giz e dar uma simples aula. Ditam cátedra, reúnem-se em conselhos e academias, trocam elogios recíprocos, alimentam-se de fugaz notoriedade, promovem-se à custa dos incautos ou dos espertos que lhes exploram a fatuidade. Eles, em verdade, nada fazem e nada conhecem. Ainda não conseguimos romper o círculo vicioso que sempre premiou esta gente mofada, carcomida, presunçosa que não dá oportunidade ao aparecimento de outras ideias ou, ao menos, à revitalização do que já foi, no tempo em que a escola era risonha e franca e o professor merecia o respeito maior da comunidade, tinha status e era tratado com carinho e admiração, fazendo da vitória de seus alunos, o seu prêmio supremo porque foi para isto que ele se preparou, era seu compromisso com o futuro, seu projeto de vida. Hoje, que juramento? Que projeto? Que profissão? Que respeito? Que educação? E vamos assim, aos arrancos, perdidos na incompetência e na politicagem barata que desvirtua as finalidades e embaça os focos necessários ao estabelecimento de diretrizes corretas e permanentes. Quantas reformas tivemos, quantas propostas, quantos planos mirabolantes, quantos ministros?
E continuamos, desde que Anchieta aqui aportou, a procurar o modelo condizente com nossa realidade. Ora copiamos o francês, ora o norte-americano, ora fizemos uma mistura entre eles e adicionamos pitadas do padrão japonês sem que jamais tenhamos erigido o nosso arquétipo próprio e adequado às necessidades que conhecemos. Revejo a minha coleção de frustrações, da destruição dos sonhos que carregava ao entrar pela vez primeira numa sala de aula em que era eu, o professor, o mais jovem na turma de curso noturno ao final dos anos cinquenta que vieram a ser conhecidos como "os dourados"... Em algumas ocasiões, mais tristonhas e deprimidas, recordo o que passei e enfrentei, as decepções sofridas, as ideias machucadas, as crenças veteranas, as bandeiras esfarrapadas e me deparo hoje, mais de meio século após, sofrendo os mesmos penares, passando por iguais angústias e vendo que nada do que foi imaginado se realizou. É um sentimento doído quando se chega ao inverno da vida e se procura fazer um inventário da trajetória, do que deixará para os herdeiros, do que me fez ter momentos de felicidade e verifica-se que há pouco a contabilizar. Enfim, não estou deitado num divã de psiquiatra (nunca o fiz, o que, talvez, explique os defeitos e introversão...) e meus sete leitores compassivos nada têm a ver com os embates de minha alma, com sua tortura diuturna, com sua ânsia de encontrar a concretização, de ver um trabalho bem feito, de colocar a educação no lugar mais alto do pódio. Tudo são quimeras, ilusões que se desmancham como bolhas de sabão no encontro cotidiano com as páginas do noticiário que nos trazem a crueza do dia-a-dia, da guerrilha urbana, do desvario das pessoas, da incapacidade das autoridades.
A cidade já descrita como partida, mais aprofunda seus fossos e abismos e se alarga a distância entre o asfalto e o morro, as casas e os guetos, os que desfrutam de uma existência melhor e os que vivem a incerteza da meia-hora seguinte, sem futuro, sem esperanças. E quantos de nós conhecemos a realidade das favelas em que nossos semelhantes se encarrapitam em barracos ilhados pelas línguas negras do esgoto a céu aberto? Quantos de nós nos importamos com o sofrimento desta gente abandonada à própria sorte, desvalida, que se espreme entre o poder do tráfico e o da polícia, refém da desgraça, sujeita à bala enlouquecida que se aloja no peito do passante distraído? "A lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão" é a imagem poética, lírica que disfarça a dor dos esbofeteados pela mão torta do destino. Encaramos uma batalha diária, o ir e vir se transforma numa aventura, quem sai para trabalhar (quando tem emprego...) não sabe se volta e os nervos se esfrangalham no medo em meio a engarrafamentos ou nas ruas mais desertas, à espera do ataque que pode vir.
Vivemos em sobressalto, temerosos, agoniados e agressivos. Uma sociedade amedrontada é conseqüência também de comunidades sem educação, despida de valores que não lhes foram ensinados. A educação, sabemos e repetimos todos (mas não agimos...), é o grande agente de desenvolvimento, é o meio de se garantir crescimento e prosperidade à população, de propiciar igualdade de oportunidades, de acabar com a discriminação racial odiosa, é o passaporte para o porvir de prosperidade pelo qual tanto ansiamos. As teses são várias, as palestras, numerosas, as promessas, infinitas, mas continuamos à busca do rumo certo, da política acertada que nos tire do estágio primário em que nos encontramos e nos eleve a patamares melhores. Não é uma missão que se faz com o estalar de dedos, é uma meta para mais de um decênio, mas é preciso começar em algum momento, não pode ficar para amanhã, para um outro governo. Necessitamos tomar conhecimento da gravidade do momento que nos aflige como pessoas e como cidadãos e reivindicar o resgate de nossa paz, o que se alicerçará com a base de uma educação forte e séria que abra horizontes e que una as cidades e o país para a construção de uma nação desenvolvida e livre para determinar o seu fado.
FOLHA DIRIGIDA
Expectativas
Terezinha Saraiva
A cada dia, diante dos que planejam a educação, dos que são gestores ou professores, surgem verdades que se vão sedimentando e que se transformam em um verdadeiro Código de Princípios. Essas verdades são inúmeras. Uma delas, porém, é muito importante: o nível de expectativa, pois que dele depende, em grande parte, o sucesso ou o fracasso do que se faz. O nível de expectativa é o elemento motivador de qualquer empreendimento. Em todas as áreas. Talvez muito mais na área educacional. Para os educadores, ter um alto nível de expectativa é imprescindível. Se o professor tiver um baixo nível de expectativa em relação a seus alunos, ele terá, desses alunos, como retorno, um desempenho escolar aquém de suas potencialidades. O mesmo ocorre com o gestor de uma escola. Dificilmente, ele conseguirá uma boa produtividade, se não tiver, ou se não souber transmitir à sua equipe, um alto nível de expectativa. Se os alunos, por sua vez, não tiverem um alto nível de expectativa em relação à escola que os acolheu, aos seus professores e a si próprios, seu desempenho estará abaixo do esperado, abaixo do que, se estimulado pelo nível de expectativa de seus professores e suas famílias, poderiam alcançar.
O alto nível de expectativa do professor, em relação ao seu trabalho, começa pela crença de poder realizar uma prática docente de alta qualidade, porque acredita em sua competência, por se saber capaz de motivar seus alunos, elevando sua autoestima, para que tenham um alto nível de expectativa em relação a seu desempenho escolar. Do mesmo modo, as famílias precisam ter um alto nível de expectativa em relação à escola em que seus filhos estudam, em relação ao gestor e aos professores, e em relação a seus filhos. Ter um alto nível de expectativa representa um estímulo importante para que todos os que estão envolvidos no processo ensino-aprendizagem - alunos, professores, gestores, pessoal de apoio - desempenhem cada vez melhor a parte que lhes cabe, conseguindo melhores resultados. Claro que é difícil para o professor manter um alto nível de expectativa, quando se vê diante de inúmeras dificuldades que o desestimulam e tornam mais difícil seu trabalho: baixos salários; condições precárias de muitas escolas; turmas superdimensionadas e extremamente heterogêneas; alunos com histórias de vida tão diversas, o que influi no seu comportamento, desvia sua atenção, dificulta a aprendizagem. Nas turmas que os professores de educação básica recebem, há alunos criados em ambientes familiares e comunitários, cuja moeda corrente é a agressividade, o desrespeito, a violência, o que os tornam violentos e desrespeitosos. Outros são apáticos por subnutrição, por cansaço, uma vez que muitos deles já chegam às escolas, depois de terem cumprido uma jornada de trabalho, em casa ou nas ruas.
Ainda outros, ressentem-se do fato de não terem em casa um lugar em que possam estudar, sentar para fazer seus trabalhos escolares, e alguém que os possa acompanhar em seus estudos. É difícil manter um alto nível de expectativa diante dessa clientela; mas são eles os alunos da educação básica, sobretudo do ensino fundamental. Assim, é necessário que os professores consigam elevar seu nível de expectativa, apoiando-se nos sucessos alcançados, nas vitórias conquistadas. E elas são muitas. É a criança que chegou à escola sem coordenação motora e que já escreve com desembaraço; que não sabia distinguir fonemas e grafemas e que já lê, entendendo o que lê. É a criança que usava os dedos para somar e diminuir e que já consegue realizar essas duas operações sem precisar daquele recurso; que já conhece a história e a geografia de sua cidade; que já sabe explicar porque o verão deste ano teve temperaturas tão altas; que aprende a importância de preservar o meio ambiente. É um estímulo que faz amenizar as dificuldades, quando os professores constatam que seus alunos já internalizaram preceitos morais e éticos, que não lhes tenham sido ensinados pelas famílias e que já comecem a formar sua escala de valores. É um estímulo que faz aumentar o nível de expectativa, quando os professores concluem que seus alunos já aprenderam a importância dos limites, da harmonia, do respeito para melhor conviverem com seus professores e colegas; que já sabem a importância da educação para suas próprias vidas. Claro que todas essas aprendizagens, além dos conhecimentos, competências e habilidades adquiridos, não ocorreram no mesmo espaço de tempo. Cada indivíduo tem seu ritmo de aprendizagem; mas todos são capazes de aprender, se estimulados, se perceberem que os professores mantêm um alto nível de expectativa em relação a eles.
O Brasil também ampliou seu nível de expectativa em relação à educação. Durante muitos e muitos anos a expectativa da educação obrigatória resumia-se ao ensino primário, na faixa etária dos 7 aos 14 anos. A partir de 1971, a Lei 5692 expressou um maior nível de expectativa, ao tornar obrigatório o ensino de 1º grau, com oito anos de duração, dobrando o número de anos da escolaridade obrigatória. Foi um grande passo, que levou alguns anos para ser alcançado em termos quantitativos. Ao final da década de 90, do século passado, tínhamos quase atingido a universalização. Faltava-nos conseguir melhorar a qualidade do ensino e a eficácia da aprendizagem. Em 1996, diante da importância crescente da educação, não só para as pessoas, mas para responder às necessidades de um país em desenvolvimento, a Lei 9394 ampliou o nível de expectativa da educação, considerando como educação básica a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Nosso nível de expectativa passou a ser a garantia de que todos os brasileiros tivessem 14 anos de escolaridade básica, dos 4 aos 17 anos, idades previstas para o início da educação pré-escolar e para o término do ensino médio.
Estamos assistindo à resposta a um novo nível de expectativa. Além da universalização do ensino fundamental, houve um expressivo aumento da pré-escola e do ensino médio; além de vermos iniciar a expansão da creche e dos programas de educação de jovens e adultos. Apesar de saber que essa expectativa não se esgota no aspecto quantitativo, representado pela ampliação das matrículas, que é preciso conseguir a permanência dos matriculados até o final de cada etapa, e que é necessário um enorme esforço, mais difícil do que o anterior, para elevar a qualidade da educação básica brasileira, prosseguimos ampliando o nível de expectativa do poder da educação. Tornou-se obrigatória a educação básica, dos 4 aos 17 anos e, não mais apenas o ensino fundamental. Estamos diante de um grande desafio promovido pela elevação do nível de expectativa. Desafio esse que precisa, para ser respondido, do esforço conjugado dos governantes, dos sistemas de ensino, das escolas, dos gestores, dos professores, dos alunos e suas famílias, da sociedade em geral. É um grande desafio, mas que terá que ser atendido, porque nasceu das necessidades impostas pelo próprio evoluir do mundo moderno, desafio diante do qual os educadores não podem ficar indiferentes. Só com a conjugação de esforços será possível dar uma resposta concreta e afirmativa ao desafio, ao alto nível de expectativa que se expressa no garantir do acesso, da permanência e da conclusão de uma educação básica de qualidade por todos os brasileiros.
Observação: as notícias deste clipping são
meramente informativas, publicadas em jornais
diários. Portanto, não expressam a opinião do SINPEEM.
A DIRETORIA
CLAUDIO FONSECA
Presidente
http://twitter.com/sinpeem_oficial
http://twitter.com/pclaudiofonseca
FOLHA DE SÃO PAULO
É um resultado desalentador para uma sociedade que só agora vai alcançando o consenso necessário acerca da importância da educação para enfrentar seus desafios, do potencial de crescimento econômico à violência urbana -ao mesmo tempo em que se dá conta de oportunidades desperdiçadas.
Fica claro que o país não foi capaz, nesse período, de diminuir a evasão no ensino médio, conter de maneira satisfatória as taxas de repetência e ampliar tanto quanto seria recomendável o acesso à universidade. Cada uma dessas falhas cobrará o seu preço nos próximos anos, e será mais lento o ritmo em que o país caminhará na direção de melhores condições sociais, com a necessária redução das desigualdades.
Ao mesmo tempo foram tantos os objetivos definidos em 2001, que a taxa de cumprimento das metas precisa ser analisada com cautela. Faltou ao plano identificar prioridades, estabelecer metas passíveis de serem acompanhadas por indicadores confiáveis e, em alguns casos, uma perspectiva mais realista.
Chama a atenção, por exemplo, o projeto de matricular, em uma década, metade das crianças de zero a três anos
Esse tipo de irrealismo acaba por obscurecer conquistas do período, quando o país dobrou a parcela de crianças de zero a três anos na escola -de 9% para 18%.
Os resultados positivos, no entanto, não são capazes de dissipar a impressão geral negativa propiciada pelo estudo. O Brasil avançou pouco, e por vezes retrocedeu, em índices educacionais importantes. O gasto total com educação ficou estagnado em cerca de 5% do PIB até
É preciso não só melhorar os indicadores, mas fazê-lo em ritmo muito mais intenso. O país discutirá em 2010 seu novo Plano Nacional de Educação, que fixará objetivos para os próximos dez anos. É uma oportunidade para elaborar diretrizes mais precisas, estabelecer prioridades claras e criar incentivos ao cumprimento de metas que possam ser acompanhadas com mais precisão e regularidade.
Esse foi o percentual de aumento no índice de proficiência dos alunos dessa série em 2009 em relação ao ano anterior, medido pelas provas de avaliação dos alunos (Saresp), em língua portuguesa e matemática. Além disso, a Secretaria da Educação calcula o Idesp, que combina os resultados do Saresp com a evolução dos indicadores de aprovação, repetência e evasão das escolas. No primeiro ciclo do ensino fundamental, o aumento do Idesp em um ano foi ainda mais expressivo: 18,4%. Melhora "sutil"?
Não quero minimizar os problemas da educação em nosso país ou no Estado. Desde que fui secretário da Educação, no governo Montoro, depois reitor da Unicamp e ministro da Educação a partir de
É uma brutal infâmia afirmar que o Estado culpa professores por nota baixa dos alunos. A equipe que assumiu a Secretaria da Educação desde o início do atual governo considera que os professores são vítimas de um sistema de formação docente que privilegia o teórico e o ideológico em detrimento do conteúdo e da didática.
Para superar as lacunas na formação dos professores, e não culpá-los por essa deficiência, a secretaria, desde 2007, desenvolveu todas as ações voltadas para o apoio ao trabalho do professor em seu dia a dia, a fixação de metas e objetivos de melhoria da qualidade do ensino e o oferecimento de estímulos ao aperfeiçoamento dos professores, tudo tendo como base os conteúdos do currículo do Estado.
As primeiras ações, baseadas no currículo, se organizaram em torno de dois programas: o Ler e Escrever e o São Paulo Faz Escola. Os professores passaram a ser apoiados com materiais para eles e para os alunos.
Até o presente, mais de 192 milhões de exemplares foram enviados às escolas. Esse conteúdo também serve de base para constantes cursos de aperfeiçoamento e atualização. Além disso, nas primeiras séries, alocamos professores auxiliares para ajudar nas tarefas do letramento.
Uma grande inovação foi o estabelecimento de metas concretas a serem alcançadas até 2010. E as metas anuais daí decorrentes têm sido superadas a cada ano. Seu mérito está em priorizar a aprendizagem dos alunos, buscando trazer para dentro das salas de aula os resultados do sistema de avaliação. Esse processo alimenta o sistema de bônus por resultados. Cada escola é comparada com ela mesma e, quanto maior o seu avanço, melhor é o prêmio. Em 2009, 196 mil servidores, entre professores e funcionários, receberam o bônus, e metade deles ganhou dois ou mais salários.
Dando continuidade às mudanças, passamos a fortalecer a carreira e estimular o aperfeiçoamento dos professores, a começar pela mudança do sistema de ingresso. Após a seleção em concurso público, o professor deverá ser aprovado em curso de quatro meses na Escola de Formação de Professores, recém-criada.
O primeiro concurso nas novas regras será no dia 28 de março e terá 261 mil candidatos disputando as 10 mil vagas que são inicialmente oferecidas. Ademais, criamos um exame a que todos os professores temporários devem se submeter. A atribuição de aulas de 2010, pela primeira vez no Estado, já levou em conta os resultados dessa prova.
A carreira docente foi modificada para tornar-se mais atraente e valorizar o mérito do professor. O primeiro concurso de promoção, que haverá de aumentar em 25% os salários de 44 mil professores, já foi realizado e contou com a participação de mais de 93 mil docentes.
Um benefício colateral, ainda não destacado, decorre da realização de provas para os professores. Entre o exame de temporários e o concurso de promoção, podemos assegurar que mais de 170 mil dos nossos 220 mil professores se submeteram a um exame nos últimos três meses. Estudaram e se prepararam para as provas.
Claro que sindicatos engajados em políticas eleitorais não gostam disso.
Para os detratores e seus porta-vozes, esta verdade parece insuportável: nossas crianças e adolescentes serão as grandes beneficiárias da renovação de conhecimentos, bem como de todas as medidas que visam a premiar o mérito e fortalecer nosso magistério.
FOLHA DE SÃO PAULO
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A proposta ainda será discutida na Conferência Nacional de Educação, que ocorre no fim de março e que levará subsídios ao projeto que o MEC enviará ao Congresso.
A Folha adiantou ontem que, assim como a erradicação do analfabetismo, dois terços das metas não foram cumpridas do atual PNE, que abrange o período de 2001-2010. Relatório feito por pesquisadores de universidades federais apontou que só 33% das metas foram alcançadas. O país ainda tem 14 milhões de analfabetos.
Outra prioridade que entrará no novo plano será a elevação dos investimentos em educação, que passarão a equivaler a 10% do Produto Interno Bruto até 2014. Em 2007, dado mais recente disponível, o percentual ficou em 5,1% ou 4,7%, dependendo da forma de cálculo.
Fernando Haddad (Educação) disse que pediu ao Inep, órgão ligado à pasta, para atualizar e revisar o balanço do PNE encomendado aos pesquisadores. O ministro contestou um dado do relatório relativo à repetência no ensino fundamental: o trabalho diz que ela cresceu, mas dados do Inep apresentados por Haddad apontam que caiu de 21,7% para 13% de
Haddad fez ressalva também em relação à educação superior. O PNE fixa que até 2010 o Brasil tenha 30% dos jovens de
PORTAL APRENDIZ
Desirèe Luíse
Com o objetivo de incentivar ações que promovam a leitura de livros de literatura, nasceu o Movimento por um Brasil Literário. “Ler este gênero é um direito de todos e que ainda não está escrito”, revela o manifesto do movimento, que recentemente recebeu a adesão da escritora premiada Ana Maria Machado, eleita secretária geral da Academia Brasileira de Letras, e já contava com autores como Frei Beto, Marina Colasanti e Marisa Lajolo. Iniciativa do Instituto C&A, a campanha pela promoção da literatura no Brasil foi lançada oficialmente em junho de 2009, na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece todos os anos na cidade fluminense. Além do Centro de Cultura Luiz Freire, também faz parte da articulação do movimento a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Instituto Ecofuturo e a Associação Casa Azul, organizadora da Flip.
De acordo com Cida, é necessário investir em políticas públicas que ampliem o acesso aos livros. Baratear o custo das obras e aumentar o número de bibliotecas seria ações essenciais. O preço do livro “Tieta do Agreste”, por exemplo, custa aproximadamente R$ 70 em livrarias paulistas, quase 14% do salário mínimo brasileiro, os atuais R$ 510. A obra de Jorge Amado custaria mais barato se fosse comprado fora do país. Em La Paz, capital da Bolívia, sairia pelo equivalente a R$ 61. “Se tem acesso desde pequeno, vai gostar da literatura. Não tem acesso, por isso o sujeito não conheceu e não criou o hábito”, disse ela. A pesquisa do Instituto Pró-Livro sugere que a maior influência para a formação do hábito da leitura vem da família, o que explica o fato de 63% dos não leitores informarem nunca ter visto os pais lendo. Assim, além de ampliar o acesso ao livro, seria necessário investir na formação de leitores. Segundo Cida, há um problema cultural da não leitura, decorrência da falta de valorização do livro.
Vivemos uma época em que se perderam todos os valores e, fundamentalmente, na escola, por ironia, mais se manifesta a falta de educação, com alunos desleixados, agressivos, dispersos, indolentes e, por vezes, viciados em drogas. O professor, porque de baixa formação, não se impõe, não inspira o respeito que sua tarefa reclama, não consegue ser o amigo e conselheiro, as relações se deterioram, criam-se campos adversos e prevalece a norma de "não me aborreça e eu não o aborrecerei", um perverso conluio que conduz à aprovação facilitada e à desconsideração com comezinhos princípios de convivência social que a família, por seu turno, também não sabe inocular porque, igualmente, não aprendeu. Quem trabalha na educação, ouvi de uma mãe, é um herói. Mas é herói o que foi bem preparado, que é vocacionado, que se atualiza, que traz a chama do ideal, que se consagrou à profissão, não os que estão por aí, diploma não querido na mão e enganando a juventude, de olho apenas em melhorias salariais. Há que se encontrar o vetor justo que saiba discriminar o verdadeiro professor do desajustado e aproveitador que fez um curso capenga depois de um vestibular que nada aferiu, já que sobravam vagas. Tenho defendido gratificações para os que estão em sala de aula, para os que se aperfeiçoam em cursos, para os que lecionam em locais de acesso difícil e, obviamente, um salário mais digno e atraente que possibilite seduzir os mais capazes.
Como vamos, dirigem-se aos falidos cursos de pedagogia ou de formação para o magistério apenas os que não têm outra opção para conseguirem um título de curso superior. Esta fornada apática, ignara, desmotivada, jamais poderá ensinar algo, nunca contribuirá para o soerguimento e redenção da aviltada educação nacional. É preciso deixar a educação para os reais educadores, não economizar recursos com nosso principal fator de enriquecimento e passaporte para o primeiro mundo, abandonar as picuinhas e permitir a liberdade de criação e de projetos que morrem esmagados pela burocracia estúpida ou pela vaidade tola. Como existem vaidosos na educação! Com seus anacolutos e citações pretendem demonstrar uma competência que não possuem e são, tenho certeza, incapazes de empunhar um giz e dar uma simples aula. Ditam cátedra, reúnem-se em conselhos e academias, trocam elogios recíprocos, alimentam-se de fugaz notoriedade, promovem-se à custa dos incautos ou dos espertos que lhes exploram a fatuidade. Eles, em verdade, nada fazem e nada conhecem. Ainda não conseguimos romper o círculo vicioso que sempre premiou esta gente mofada, carcomida, presunçosa que não dá oportunidade ao aparecimento de outras ideias ou, ao menos, à revitalização do que já foi, no tempo em que a escola era risonha e franca e o professor merecia o respeito maior da comunidade, tinha status e era tratado com carinho e admiração, fazendo da vitória de seus alunos, o seu prêmio supremo porque foi para isto que ele se preparou, era seu compromisso com o futuro, seu projeto de vida. Hoje, que juramento? Que projeto? Que profissão? Que respeito? Que educação? E vamos assim, aos arrancos, perdidos na incompetência e na politicagem barata que desvirtua as finalidades e embaça os focos necessários ao estabelecimento de diretrizes corretas e permanentes. Quantas reformas tivemos, quantas propostas, quantos planos mirabolantes, quantos ministros?
E continuamos, desde que Anchieta aqui aportou, a procurar o modelo condizente com nossa realidade. Ora copiamos o francês, ora o norte-americano, ora fizemos uma mistura entre eles e adicionamos pitadas do padrão japonês sem que jamais tenhamos erigido o nosso arquétipo próprio e adequado às necessidades que conhecemos. Revejo a minha coleção de frustrações, da destruição dos sonhos que carregava ao entrar pela vez primeira numa sala de aula em que era eu, o professor, o mais jovem na turma de curso noturno ao final dos anos cinquenta que vieram a ser conhecidos como "os dourados"... Em algumas ocasiões, mais tristonhas e deprimidas, recordo o que passei e enfrentei, as decepções sofridas, as ideias machucadas, as crenças veteranas, as bandeiras esfarrapadas e me deparo hoje, mais de meio século após, sofrendo os mesmos penares, passando por iguais angústias e vendo que nada do que foi imaginado se realizou. É um sentimento doído quando se chega ao inverno da vida e se procura fazer um inventário da trajetória, do que deixará para os herdeiros, do que me fez ter momentos de felicidade e verifica-se que há pouco a contabilizar. Enfim, não estou deitado num divã de psiquiatra (nunca o fiz, o que, talvez, explique os defeitos e introversão...) e meus sete leitores compassivos nada têm a ver com os embates de minha alma, com sua tortura diuturna, com sua ânsia de encontrar a concretização, de ver um trabalho bem feito, de colocar a educação no lugar mais alto do pódio. Tudo são quimeras, ilusões que se desmancham como bolhas de sabão no encontro cotidiano com as páginas do noticiário que nos trazem a crueza do dia-a-dia, da guerrilha urbana, do desvario das pessoas, da incapacidade das autoridades.
A cidade já descrita como partida, mais aprofunda seus fossos e abismos e se alarga a distância entre o asfalto e o morro, as casas e os guetos, os que desfrutam de uma existência melhor e os que vivem a incerteza da meia-hora seguinte, sem futuro, sem esperanças. E quantos de nós conhecemos a realidade das favelas em que nossos semelhantes se encarrapitam em barracos ilhados pelas línguas negras do esgoto a céu aberto? Quantos de nós nos importamos com o sofrimento desta gente abandonada à própria sorte, desvalida, que se espreme entre o poder do tráfico e o da polícia, refém da desgraça, sujeita à bala enlouquecida que se aloja no peito do passante distraído? "A lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão" é a imagem poética, lírica que disfarça a dor dos esbofeteados pela mão torta do destino. Encaramos uma batalha diária, o ir e vir se transforma numa aventura, quem sai para trabalhar (quando tem emprego...) não sabe se volta e os nervos se esfrangalham no medo em meio a engarrafamentos ou nas ruas mais desertas, à espera do ataque que pode vir.
Vivemos em sobressalto, temerosos, agoniados e agressivos. Uma sociedade amedrontada é conseqüência também de comunidades sem educação, despida de valores que não lhes foram ensinados. A educação, sabemos e repetimos todos (mas não agimos...), é o grande agente de desenvolvimento, é o meio de se garantir crescimento e prosperidade à população, de propiciar igualdade de oportunidades, de acabar com a discriminação racial odiosa, é o passaporte para o porvir de prosperidade pelo qual tanto ansiamos. As teses são várias, as palestras, numerosas, as promessas, infinitas, mas continuamos à busca do rumo certo, da política acertada que nos tire do estágio primário em que nos encontramos e nos eleve a patamares melhores. Não é uma missão que se faz com o estalar de dedos, é uma meta para mais de um decênio, mas é preciso começar em algum momento, não pode ficar para amanhã, para um outro governo. Necessitamos tomar conhecimento da gravidade do momento que nos aflige como pessoas e como cidadãos e reivindicar o resgate de nossa paz, o que se alicerçará com a base de uma educação forte e séria que abra horizontes e que una as cidades e o país para a construção de uma nação desenvolvida e livre para determinar o seu fado.
FOLHA DIRIGIDA
O alto nível de expectativa do professor, em relação ao seu trabalho, começa pela crença de poder realizar uma prática docente de alta qualidade, porque acredita em sua competência, por se saber capaz de motivar seus alunos, elevando sua autoestima, para que tenham um alto nível de expectativa em relação a seu desempenho escolar. Do mesmo modo, as famílias precisam ter um alto nível de expectativa em relação à escola em que seus filhos estudam, em relação ao gestor e aos professores, e em relação a seus filhos. Ter um alto nível de expectativa representa um estímulo importante para que todos os que estão envolvidos no processo ensino-aprendizagem - alunos, professores, gestores, pessoal de apoio - desempenhem cada vez melhor a parte que lhes cabe, conseguindo melhores resultados. Claro que é difícil para o professor manter um alto nível de expectativa, quando se vê diante de inúmeras dificuldades que o desestimulam e tornam mais difícil seu trabalho: baixos salários; condições precárias de muitas escolas; turmas superdimensionadas e extremamente heterogêneas; alunos com histórias de vida tão diversas, o que influi no seu comportamento, desvia sua atenção, dificulta a aprendizagem. Nas turmas que os professores de educação básica recebem, há alunos criados em ambientes familiares e comunitários, cuja moeda corrente é a agressividade, o desrespeito, a violência, o que os tornam violentos e desrespeitosos. Outros são apáticos por subnutrição, por cansaço, uma vez que muitos deles já chegam às escolas, depois de terem cumprido uma jornada de trabalho, em casa ou nas ruas.
Ainda outros, ressentem-se do fato de não terem em casa um lugar em que possam estudar, sentar para fazer seus trabalhos escolares, e alguém que os possa acompanhar em seus estudos. É difícil manter um alto nível de expectativa diante dessa clientela; mas são eles os alunos da educação básica, sobretudo do ensino fundamental. Assim, é necessário que os professores consigam elevar seu nível de expectativa, apoiando-se nos sucessos alcançados, nas vitórias conquistadas. E elas são muitas. É a criança que chegou à escola sem coordenação motora e que já escreve com desembaraço; que não sabia distinguir fonemas e grafemas e que já lê, entendendo o que lê. É a criança que usava os dedos para somar e diminuir e que já consegue realizar essas duas operações sem precisar daquele recurso; que já conhece a história e a geografia de sua cidade; que já sabe explicar porque o verão deste ano teve temperaturas tão altas; que aprende a importância de preservar o meio ambiente. É um estímulo que faz amenizar as dificuldades, quando os professores constatam que seus alunos já internalizaram preceitos morais e éticos, que não lhes tenham sido ensinados pelas famílias e que já comecem a formar sua escala de valores. É um estímulo que faz aumentar o nível de expectativa, quando os professores concluem que seus alunos já aprenderam a importância dos limites, da harmonia, do respeito para melhor conviverem com seus professores e colegas; que já sabem a importância da educação para suas próprias vidas. Claro que todas essas aprendizagens, além dos conhecimentos, competências e habilidades adquiridos, não ocorreram no mesmo espaço de tempo. Cada indivíduo tem seu ritmo de aprendizagem; mas todos são capazes de aprender, se estimulados, se perceberem que os professores mantêm um alto nível de expectativa em relação a eles.
O Brasil também ampliou seu nível de expectativa em relação à educação. Durante muitos e muitos anos a expectativa da educação obrigatória resumia-se ao ensino primário, na faixa etária dos 7 aos 14 anos. A partir de 1971, a Lei 5692 expressou um maior nível de expectativa, ao tornar obrigatório o ensino de 1º grau, com oito anos de duração, dobrando o número de anos da escolaridade obrigatória. Foi um grande passo, que levou alguns anos para ser alcançado em termos quantitativos. Ao final da década de 90, do século passado, tínhamos quase atingido a universalização. Faltava-nos conseguir melhorar a qualidade do ensino e a eficácia da aprendizagem. Em 1996, diante da importância crescente da educação, não só para as pessoas, mas para responder às necessidades de um país em desenvolvimento, a Lei 9394 ampliou o nível de expectativa da educação, considerando como educação básica a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Nosso nível de expectativa passou a ser a garantia de que todos os brasileiros tivessem 14 anos de escolaridade básica, dos 4 aos 17 anos, idades previstas para o início da educação pré-escolar e para o término do ensino médio.
Estamos assistindo à resposta a um novo nível de expectativa. Além da universalização do ensino fundamental, houve um expressivo aumento da pré-escola e do ensino médio; além de vermos iniciar a expansão da creche e dos programas de educação de jovens e adultos. Apesar de saber que essa expectativa não se esgota no aspecto quantitativo, representado pela ampliação das matrículas, que é preciso conseguir a permanência dos matriculados até o final de cada etapa, e que é necessário um enorme esforço, mais difícil do que o anterior, para elevar a qualidade da educação básica brasileira, prosseguimos ampliando o nível de expectativa do poder da educação. Tornou-se obrigatória a educação básica, dos 4 aos 17 anos e, não mais apenas o ensino fundamental. Estamos diante de um grande desafio promovido pela elevação do nível de expectativa. Desafio esse que precisa, para ser respondido, do esforço conjugado dos governantes, dos sistemas de ensino, das escolas, dos gestores, dos professores, dos alunos e suas famílias, da sociedade em geral. É um grande desafio, mas que terá que ser atendido, porque nasceu das necessidades impostas pelo próprio evoluir do mundo moderno, desafio diante do qual os educadores não podem ficar indiferentes. Só com a conjugação de esforços será possível dar uma resposta concreta e afirmativa ao desafio, ao alto nível de expectativa que se expressa no garantir do acesso, da permanência e da conclusão de uma educação básica de qualidade por todos os brasileiros.
Observação: as notícias deste clipping são
meramente informativas, publicadas em jornais
diários. Portanto, não expressam a opinião do SINPEEM.
A DIRETORIA
Presidente
http://twitter.com/pclaudiofonseca