18/05/2010 - CLIPPING EDUCACIONAL
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CORREIO BRAZILIENSE – 18/05/2010
E-teaching: a segunda onda do EAD
ANTONIO CÂNDIDO CARNEIRO DE AZAMBUJA NETO
Muito tem sido feito e falado sobre educação. Mais recentemente, com a internet, ganhou força o que ficou conhecido como e-learning. Mas o que é isso? Na esteira do eletronic-mail, o popular e-mail, tudo o que foi levado do mundo real para a condição virtual ganhou o prefixo “e”. Decorrem daí o e-commerce (comércio eletrônico) e o e-business (negócios eletrônicos), por exemplo. A educação também foi levada para a Internet — ou melhor, essa, a Internet, nasceu no meio acadêmico. Como um depósito infinito em sua limitação de espaço, era natural que o mundo do conhecimento ocupasse um lugar de destaque na rede internacional de informação. Ganhou espaço na vida cotidiana o termo e-learning, e sua associação como sinônimo de educação a distância na internetfoi imediata e natural. Entretanto, essa associação carece de um melhor entendimento.
Comecemos esse entendimento pela vertente semântica. Educação é uma via de mão dupla. Compreende dois vastos mundos: o aprender e o ensinar. No mundo do personal computer (PC), era natural que se desenvolvesse a EAD seguindo a vertente do aprender a distância, uma vez que os alunos se encontram fora das salas de aula. Tanto que as plataformas mais difundidas, bem como as iniciativas mais encontradas pelas ferramentas de busca na internet primam pela oferta de ações de e-learning. A melhoria da conectividade e a proliferação do acesso à rede em banda larga permitem agora o desenvolvimento da segunda vertente ou a segunda onda do EAD na Internet. Refiro-me ao ensinar a distância, ou, por analogia, ao e-teaching. A disponibilização de conexões que permitem a navegação on-line em tempo real de imagem e voz com qualidade e as plataformas de videoconferência baseadas na web abrem portas para um sem número de salas de aulas conectadas à internet, possibilitando uma interatividade jamais imaginada e agregando valor incalculável ao desenvolvimento do saber. Supor uma aula em que o professor, especialista em determinado tema, a partir de sua base — laboratório, área de teste ou afim — exponha seu conhecimento utilizando-se de ferramentas audiovisuais (powerpoint, vídeos, imagens, entre outros) a grupos de alunos concentrados em salas de aulas preparadas para esse fim (com datashow, telão, webcam, microfones e equipamentos de som) espalhadas por todo o globo terrestre é hoje algo factível, real e acessível a custos módicos. Mais ainda, a interatividade, a troca efetiva de experiências exclusivas de quem se submeteu à determinada condição é também real, visto que as salas estão também conectadas entre si e a troca é multilateral, num sistema em que trocar é construir habilidades.
Nessa segunda onda, a EAD ganha seu caráter globalizador ao tornar o planeta algo pequeno frente ao tamanho do universo disponível. Com o e-teaching, inicia-se a formação do profissional global apto a enfrentar realidades também globais. Submeter-se a uma educação global passa a permitir o acesso, a conhecer antecipadamente realidades diferentes, ampliando a capacidade de conhecimento e consequentemente competência na identificação e solução de problemas ou aproveitamento de oportunidades. As plataformas de videoconferência baseadas na web disponíveis estão cada vez mais acessíveis e versáteis, compatibilizando amigabilidade de uso e disponibilidade de recursos. Por sua vez, a oferta de cursos usando tais recursos tem também permitido o desenvolvimento de metodologias cada vez mais inovadoras e eficientes em sua ação de promover a difusão do saber.
A interatividade e o consequente networking — tão importante no mundo dos negócios globalizados — são assegurados, garantindo a harmonia e a qualidade do ambiente de ensino-aprendizagem. Apoiar, promover e fundamentalmente reconhecer a contribuição do e-teaching é papel de todos, principalmente daqueles responsáveis pela tomada de decisão sobre verbas de treinamento das muitas empresas que buscam na qualificação de seus profissionais a perenidade eficiente de seus negócios.
REVISTA VEJA – MAIO DE 2010
Meninos prodígios
A história de um grupo de jovens com talento fora do comum para a matemática mostra como o estímulo precoce produz resultados extraordinários
ROBERTA DE ABREU LIMA
A biografia dos estudantes que aparecem na foto acima contém um fato raríssimo que os faz destoar completamente da média: eles alcançaram o feito de saltar do ensino médio direto para a pós-graduação em matemática – sem jamais ter pisado numa faculdade. O grupo pertence ao Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro, um dos melhores centros de pesquisa do mundo na área, de acordo com os rankings internacionais. Pois até mesmo ali, um celeiro de cérebros, a precocidade do trio chama atenção. Aos 18 anos, o catarinense Renan Finder já cursa o mestrado em matemática pura e cultiva o hábito de gravar na memória os problemas que, só por diversão, soluciona mentalmente nas horas vagas. O estudante resume o pensamento comum ao grupo dos prodígios: "Desde que me entendo por gente, penso o mundo como um matemático". Recrutados pelo Impa em olimpíadas dedicadas à disciplina, nas quais colecionaram medalhas, esses estudantes compõem um caso emblemático de como rastrear e lapidar talentos bem cedo pode trazer resultados excepcionais. Com todos os estímulos necessários, eles não apenas potencializaram suas aptidões como se conectaram a alguns dos melhores polos de pesquisa do mundo – algo decisivo para sua carreira. Avalia o doutor
Há evidências científicas de que os estímulos providos desde muito cedo àqueles de talento especial para a matemática têm efeitos poderosos. Isso porque em nenhuma outra etapa da vida eles estão tão propensos a ser criativos com os números. Explica o especialista alemão Martin Grötschel, da Universidade Técnica de Berlim: "Os estudos mostram que, até cerca dos 20 anos, os jovens ainda não mecanizaram os caminhos para solucionar os problemas, o que deixa o cérebro mais livre para o exercício da criatividade – fundamental para avançar nesse campo". A teoria pode ajudar a entender por que tantos gênios da matemática afloraram ainda na adolescência. Foi com apenas 16 anos que o francês Blaise Pascal (1623-1662) criou seus primeiros teoremas na área da geo-metria. O americano John Nash, por sua vez, escreveu sua tese sobre a teoria dos jogos, aquela que lhe renderia o Prêmio Nobel de Economia em 1994, aos 21 anos.
A história dos jovens prodígios do Impa reforça ainda a ideia de como um ambiente favorável ao aprendizado pode ser decisivo. Em casa, todos eles receberam incentivos para que o gosto pelas equações se perpetuasse. "Desde pequeno, meu pai adorava me colocar diante de desafios matemáticos", lembra o paulista Ricardo Turolla, 21 anos, que na 8ª série do ensino fundamental já havia resolvido 100% dos exercícios dos livros do 3º ano do ensino médio. Foi uma questão de tempo para que o pai de Ricardo, um engenheiro elétrico, acabasse ultrapassado pelo filho – hoje cursando o doutorado na área de sistemas dinâmicos, cujas aplicações vão da previsão do tempo às cotações da bolsa de valores. Como esperado, o grupo também passou por boas escolas de ensino particular, onde encontraram professores que conseguiram mantê-los interessados, apesar do abismo que os separava do restante da turma. O fato de terem participado de uma série de olimpíadas de matemática – competições que têm revelado talentos como o do pernambucano João Lucas Gambarra, 15 anos (veja o quadro abaixo) – também foi relevante. Diz o carioca Alex Correa, 23 anos e um doutorado recém-concluído: "Um ambiente tão competitivo é desafiador à inteligência. Depois de uma olimpíada, eu já pensava em me preparar para a seguinte". Sim, todos estudam madrugada adentro. Por exigência do Ministério da Educação (MEC), também começaram a cursar a faculdade, pré-requisito para que o título de doutor seja válido no Brasil.
Como outros de sua geração, os três jovens do Impa gostam de videogame, cinema, internet e festas com amigos. O que os distingue é justamente a adoração pela matemática – disciplina que a maioria dos estudantes no Brasil não só detesta como ignora. Numa comparação com alunos de 57 países, conduzida pela OCDE (organização que reúne os mais desenvolvidos), os brasileiros patinaram na 54ª posição, à frente apenas da Turquia, Catar e Quirguistão. A razão central para o flagrante atraso em relação aos demais países diz respeito ao baixo nível dos professores. Para se ter uma ideia, apenas 4% dos docentes do ensino fundamental se especializaram na área. Entre os que têm o diploma, a situação não melhora muito: em exame aplicado pelo MEC aos recém-formados, menos de um terço das questões foi respondido corretamente. Estamos a anos-luz, portanto, daquilo que o matemático americano John Allen Paulos, autor do livro Innumeracy (em português, "analfamatismo"), verificou ser mais eficaz para o ensino da matéria: "O desafio é apresentá-la como uma fantástica ferramenta para enxergar o mundo em que vivemos".
FOLHA ON LINE – 18/05/2010
Ensino da letra cursiva para crianças em alfabetização divide a opinião de educadores
HÉLIO SCHWARTSMAN
Deve-se ou não exigir que as crianças escrevam com letra cursiva? A questão, que divide educadores e semeia insegurança entre pais, está --ao lado da pergunta sobre o ensino da tabuada-- entre as mais ouvidas pela consultora em educação e pesquisadora
O segundo golpe contra a cursiva veio na forma de tecnologia. A disseminação dos computadores contribuiu para que a letra de imprensa, já preponderante, avançasse ainda mais. Manuscrever foi-se tornando um ato cada vez mais raro. No que parece ser o mais perto de um consenso a que é possível chegar, hoje a maior parte das escolas do Brasil inicia o processo de alfabetização usando apenas a letra de forma, também chamada de bastão. Tal preferência, como explica Magda Soares, professora emérita da Faculdade de Educação da UFMG, tem razões de desenvolvimento cognitivo, linguístico: "No momento em que a criança está descobrindo as letras e suas correspondências com fonemas, é importante que cada letra mantenha sua individualidade, o que não acontece com a escrita "emendada' que é a cursiva; daí o uso exclusivo da letra de imprensa, cujos traços são mais fáceis para a criança grafar, na fase em que ainda está desenvolvendo suas habilidades motoras".
O que os críticos da cursiva se perguntam é: se essa tipologia é cada vez menos usada e exige um boa dose de esforço para ser assimilada, por que perder tempo com ela? Por que não ensinar as crianças apenas a reconhecê-la e deixar que escrevam como preferirem? Essa é a posição do linguista Carlos Alberto Faraco, da Universidade Federal do Paraná, para quem a cursiva se mantém "por pura tradição". "E você sabe que a escola é cheia de mil regras sem qualquer sentido", acrescenta. A pedagoga Juliana Storino, que coordena um bem-sucedido programa de alfabetização
Magda Soares acrescenta que a demanda pela cursiva frequentemente parte das próprias crianças, que se mostram ansiosas para começar a escrever com esse tipo de letra. "Penso que isso se deve ao fato de que veem os adultos escrevendo com letra cursiva, nos usos quotidianos, e não com letras de imprensa". Para Elvira Souza Lima, que prefere não tomar partido na controvérsia, "os processos de desenvolvimento na infância criam a possibilidade da escrita cursiva". A pesquisadora explica que crianças desenhando formas geométricas, curvas e ângulos são um sério candidato a universal humano. Recrutar essa predisposição inata para ensinar a cursiva não constitui, na maioria dos casos, um problema. Trata-se antes de uma opção pedagógica e cultural. Souza Lima, entretanto, lança dois alertas. O tempo dedicado a tarefas complementares como a cópia de textos e exercícios de caligrafia não deve exceder 15% da carga horária. No Brasil, frequentemente, elas ocupam bem mais do que isso.
Ainda mais importante, não se deve antecipar o processo de ensino da escrita. Se se exigir da criança que comece a escrever antes de ela ter a maturidade cognitiva e motora necessárias (que costumam surgir em torno dos sete anos) o resultado tende a ser frustração, o que pode comprometer o sucesso escolar no futuro. O que a ciência tem a dizer sobre isso? Embora o processo de alfabetização venha recebendo grande atenção da neurociência, estudos sobre a escrita são bem mais raros, de modo que não há evidências suficientes seja para decretar a morte da cursiva, seja para clamar por sua sobrevida. Há neurocientistas, como o canadense Norman Doidge, que sustentam que a escrita cursiva, por exigir maior esforço de integração entre áreas simbólicas e motoras do cérebro, é mais eficiente do que a letra de forma para ajudar a criança a adquirir fluência. Outra corrente de pesquisadores, entretanto, afirma que, se a cursiva desaparecer, as habilidades cognitivas específicas serão substituídas por novas, sem maiores traumas.
PORTAL APRENDIZ – 18/05/2010
Projeto quer crianças de 5 anos no fundamental
DESIRÈE LUÍSE
O Projeto de Lei 6755/2010 que pretende reduzir a idade de ingresso no ensino fundamental tem gerado polêmica entre profissionais da educação. De autoria do senador Flávio Arns (PSDB), o PL altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) para reduzir de seis para cinco anos a idade de acesso das crianças na primeira série. Segundo interpretação do senador, a criança deve estar no ensino fundamental já com cinco anos para cumprir a legislação. “Ela deve, então, fazer seis anos no decorrer da primeira série. Minha medida quer adequar a LDB àquilo que está na lei maior”, explica Arns. Contrária à medida, a Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), formada por 74 organizações da sociedade civil, do governo e do setor privado, está realizando ações de mobilização contra a aprovação da proposta. Em carta endereçada aos deputados federais, a rede diz: “A proposta é um atentado contra a infância e um desserviço à educação básica brasileira”. A confusão surge a partir da modificação do artigo 208 da Constituição Federal, devido à instituição do ensino fundamental de nove anos, ocorrida em 2006 por meio da Lei 11274.
Originalmente o inciso IV do artigo 208 estabelecia que o Estado deveria garantir atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 “a” 6 anos de idade. Após a modificação, o texto diz que o dever do Estado com a educação foi efetivado mediante a garantia de educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças ''até cinco'' anos de idade. Enquanto isso, a LDB, também modificada pela lei que estabeleceu o ensino fundamental de nove anos, diz (artigo 32) que essa etapa da educação inicia-se ''aos seis'' anos de idade. De acordo com a RNPI, ao estabelecer o início do ensino fundamental aos cinco anos, o Projeto de Lei considera que há um vácuo entre o “até cinco” e “aos seis”. Também, ignora a existência da Resolução da CEB/CNE que determina que a criança deve completar seis anos para ingressar no primeiro ano do ensino fundamental até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula.
Por outro lado, o senador diz que a medida encerraria confusões hoje provocadas pela não padronização dos textos. “A grande vantagem de discutir esse assunto é para chegar ao fim um debate judicial sobre a idade que a criança tem que completar na primeira série, pois se uma criança vai de um estado para o outro no país, há disparidades ao ingressar na escola”, explica. O coordenador da secretaria executiva da RNPI, Vital Didonet, lembra que no ano passado foi promulgada a emenda constitucional 59, que tornou obrigatória a educação dos 4 aos 17 anos, que deve ser implementada até 2016. “Não há necessidade de antecipar a idade”, completa o coordenador.
Consequências - Os setores educacionais argumentam que a medida de Arns é um desserviço à educação básica brasileira. O que estaria em jogo não é a idade cinco anos, mas o direito ao aprendizado de acordo com as características da idade, com profissionais qualificados e espaços adequados à faixa etária da educação infantil. “Está sendo tirado da criança o direito de aprender brincando, de trabalhar de modo diferente com a arte, a música, a natureza, coisas próprias do ensino infantil”, alerta Didonet. “No fundamental, a cadeira e a mesa são grandes para ela. Ficarão sentadas uma atrás da outra, escutando a professora, mas deveriam estar em roda”, completa.
Especialistas alertam que aos cinco anos, a criança não está com todas as suas capacidades cognitivas formadas para estar no ensino fundamental, consequentemente poderia gerar o abandono da escola. “Sabemos que a antecipação das exigências de comportamento pode fazer com que a criança se feche ou se frustre. Essa implicação apenas será percebida mais tarde”, analisa Didonet. O Projeto de Lei nº 6755/2010 já foi aprovado no Senado e está em tramitação em regime conclusivo na Comissão de Educação e Cultura (CEC) e na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados. Isso significa que, caso seja aprovado nas comissões, o documento será encaminhado para sanção pelo presidente da República. Se entrar em vigor, haverá a mudança no processo educacional de três milhões de crianças, o que implicaria na qualificação de 100 mil professores e exigiria adequação aos sistemas de ensino de 5.560 municípios, de acordo com estimativa da Rede Nacional Primeira Infância.
FOLHA DE SÃO PAULO – 17/05/2010
Crianças de 2 anos já usam computadores em escolas
Prática acompanha era da tecnologia e complementa ensino, dizem defensores; para críticos, ela pode causar problemas visuais e motores. Computação em colégios de educação infantil cria debate sobre aprendizado precoce
TALITA BEDINELLI DA REPORTAGEM LOCAL
No Dia das Mães deste ano, a corretora de seguros Fábia Luci de Oliveira, 34, recebeu um cartão com coração, ursinhos e florzinhas coloridos pelo filho. Seria um presente comum, não tivesse o menino -de apenas três anos- feito tudo no computador e enviado por e-mail, por intermédio de um professor. O cartão foi produzido durante a aula de informática que Remo tem na escola Materna,
A computação tornou-se assunto sério em algumas escolas de ensino infantil. Entretanto, há educadores que acham que esse aprendizado está ficando cada vez mais precoce. Há casos, como o do Magister, na zona sul de São Paulo, em que os alunos já aprendem a usar computadores aos dois anos, quando ainda estão no mini-maternal. Eles têm, inclusive, um laboratório específico, com computadores de teclados grandes e coloridos. "Eles chegam à escola com informações bem pertinentes à era em que eles vivem. Manuseiam o celular da mãe, máquinas fotográficas", explica a coordenadora da educação infantil do Magister, Rosana Ziemniak. Segundo ela, nessa faixa etária os alunos usam programas específicos, com joguinhos que tocam música.
"Tentamos desde as séries iniciais contextualizar o conteúdo, tendo a informática como instrumento. A tecnologia também faz parte da matriz de habilidades e competências do Enem no fim do ensino médio." No Pentágono, as atividades tecnológicas com as crianças começa aos quatro anos. É quando elas deixam de ter duas aulas de educação física por semana para ganhar uma de informática. "Ela entra como suporte, para complementar o que é desenvolvido na sala de aula", conta Cláudia Mileu, coordenadora da educação infantil da unidade Morumbi (zona oeste). Se a criança está aprendendo números e cores, por exemplo, tem uma atividade lúdica no computador sobre isso. Apesar de ter se emocionado com o presente feito pelo filho, Fábia confessa que inicialmente não via com bons olhos as aulas de informática. "Sempre acreditei que criança tem que brincar. Vejo muitas crianças que ficam em videogame, no computador o dia inteiro, e tinha um pouco de receio disso", conta. "Mas se eu excluí-lo da tecnologia, quando ele tiver uns dez anos vai ficar para trás." Silvia Fichmann, consultora de tecnologia da educação em escolas como a Stance Dual, concorda. "As escolas precisam acompanhar o ritmo da nossa sociedade, que é multimídia. E elas estão aprendendo a usar o computador para enriquecer o trabalho da sala de aula."
Contraindicado - Para alguns educadores, no entanto, essas aulas são inúteis e até prejudiciais. "O tempo de atenção de crianças de até quatro anos chega no máximo a dez minutos. Forçar crianças [a ficar na frente de um computador] é contraindicado", diz Regina de Assis, consultora em educação e mídia e professora aposentada da Faculdade da Educação da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). "Há atividades muito mais ricas e proveitosas que poderiam fazer nesse tempo para desenvolver a coordenação motora." Para ela, o uso precoce do computador pode trazer danos visuais, já que os órgãos visuais não estão totalmente desenvolvidos, e até problemas motores, pela diminuição da movimentação corporal. A opinião é compartilhada pelo professor de ciência da computação Valdemar Setzer, da USP. "As crianças deveriam aprender brincando. O computador prejudica o desenvolvimento da imaginação porque já apresenta na tela tudo pronto. Nessa idade, a criança tem que brincar com coisas que a ajudem a imaginar. Depois, ela se torna um adulto sem imaginação, que não sabe resolver problemas com criatividade.
JORNAL DO COMMERCIO – 17/05/2010
Escolas violentas
Uma epidemia de violência parece dominar o ambiente escolar brasileiro. As notícias vêm de todos os Estados.
No Rio de Janeiro, a mãe de um adolescente de 12 anos, matriculado na rede pública municipal, foi autuada por injúria e desacato, após discutir com a diretora da unidade escolar. Motivo: o filho estava atirando pedras nas vidraças da escola. O caso foi bater na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e no Ministério Público. Na cidade de Londrina (PR), um juiz da infância e da juventude proibiu a comercialização, no município, das controversas "pulseiras da amizade" ou "pulseiras do sexo", em que as cores sugerem graus de permissão para interação sexual. A proibição foi tomada depois que uma adolescente de 13 anos foi estuprada por quatro rapazes - apenas um tem 18 anos. As pulseirinhas coloridas já foram objeto de polêmica quando chegaram ao Brasil, rapidamente se tornando moda e mote de problema nos colégios.
No Recife, os desentendimentos intramuros também têm ganhado as ruas e as delegacias. Em dezembro, um adolescente de 14 anos foi vítima de trombose após ser espancado por dois colegas de uma escola particular no bairro de Afogados - em plena sala de aula. Este mês, por motivo nada edificante, a Escola Vidal de Negreiros foi parar nas manchetes do País, ao abrigar triste ocorrência: a agressão de uma menina de 15 anos, que teve o rosto marcado com estiletes e compassos, por colegas da escola, também vizinhas dela. Durante a agressão, outra aluna foi ferida na cabeça por uma carteira, que atravessou a sala para impedir a tentativa de socorro contra o ato coletivo e covarde. Quatro das agressoras serão transferidas para outro colégio, e duas permanecem, sob a condição de serem acompanhadas pelos pais e pelo Conselho Tutelar. Pesquisa de âmbito nacional divulgada em abril mostrou que 70% dos alunos das redes pública e privada de 5ª a 8ª séries já presenciaram agressões nas escolas. É inegável que o alastramento da violência em um meio que deveria estar imune a esse tipo de situação, afeta o desenvolvimento escolar e pessoal de crianças e adolescentes. Os episódios que se repetem ultrapassam a fronteira do constrangimento e da humilhação associados ao "bullying", descambando para a pura violência. Está na hora de governantes, políticos, pais, professores e burocratas de todos os escalões lutarem contra a passividade, e se unirem pela aplicação de medidas concretas de prevenção e punição para estancar o evidente crescimento do fenômeno das escolas violentas. Falta respeito básico aos mais velhos, e sobra condescendência com a agressão verbal que se manifesta, em seguida, como agressão física.
Por outro lado, a Gerência da Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA) deve ser munida das melhores condições possíveis de cumprimento de seu trabalho, com o objetivo de agir de acordo com as expectativas da sociedade. Se a agressividade impera no cotidiano do lado de fora, é necessária a integração de políticas sociais e educacionais, para evitar que a sala de aula se transforme de vez na continuidade melancólica da degradação social, ao invés de se impor como solução a ela.
O ESTADO DE SÃO PAULO – 18/05/2010
Por falta de interesse, 18% não vão à escola
Motivo causa baixa frequência escolar e punição aos beneficiários do Bolsa-Família
MARTA SALOMON
O desinteresse pelos estudos e o abandono da escola justificaram 18% dos casos de baixa frequência às aulas de beneficiários do Bolsa-Família no último bimestre. Por esses dois motivos, as famílias de 40 mil alunos entre 6 e 17 anos terão algum tipo de punição neste mês, de uma simples advertência ao cancelamento definitivo do benefício. Os dados são de pesquisa do Ministério da Educação (MEC), em formato mais detalhado, sobre os motivos de falha na contrapartida exigida pelo programa. O novo questionário preenchido pelas escolas identificou também uma grande incidência (9,32%) de negligência dos pais ou responsáveis. Gravidez precoce, motivo que aparecia nos questionários anteriores, explica cerca de 0,5% dos casos de baixa frequência às aulas do ensino fundamental e do ensino médio. No bimestre, 1.093 casos de gestação foram registrados por alunos que não cumpriram a exigência de frequência às aulas do programa.
No total, 6.545 famílias terão o benefício cancelado neste mês e mais 3.869 jovens de 16 e 17 anos serão afastados do programa, que paga entre R$ 22 e R$ 200 mensais às famílias. "A exclusão de uma família do programa significa um fracasso da família e também um fracasso do poder público", avalia Lúcia Modesto, secretária do Ministério do Desenvolvimento Social responsável pelo Bolsa-Família. Com os resultados do acompanhamento do último bimestre, passará de 171 mil o número de famílias que perderam o benefício por não cumprir a condicionalidade na área de educação: presença em pelo menos 85% das aulas no ensino fundamental e 75% no ensino médio. Desde o início do programa, punições por faltas foram aplicadas cerca de 5 milhões de vezes, informa o Ministério do Desenvolvimento Social. Para evitar a exclusão das famílias por baixa frequência dos alunos às aulas, o ministério passou a acompanhar famílias que tiveram o pagamento bloqueado por um mês e enfrentam a segunda suspensão temporária por um período de 60 dias.
"A transferência de renda ajuda, mas não resolve todos os problemas", disse Daniel Ximenes, diretor de estudos e acompanhamento de vulnerabilidades do Ministério da Educação, que busca identificar com maior precisão os motivos da falta às aulas. Parte dos casos identificados agora como desinteresse pelos estudos ou resultado de negligência dos pais era anteriormente atribuída a motivos sociais e familiares. Mesmo no novo questionário, motivos desconhecidos deixam sem explicação 44% da baixa frequência. Apesar das faltas, o Bolsa-Família tem contribuído para evitar o abandono escolar, sobretudo no ensino médio. A taxa de abandono entre os beneficiários do programa é quase a metade da taxa nacional registrada nas escolas públicas do País.
Educação interrompida. Aos 17 anos, Railon Mateus do Vale de Guará, cidade a
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