23/07/2010 – CLIPPING EDUCACIONAL

NOTÍCIAS – FIQUE POR DENTRO


O GLOBO - 23/07/2010 - RIO DE JANEIRO (RJ)

'Falta muito, mas já melhorou'

Catarina Alencastro

BRASÍLIA - Em entrevista à jornalista Catarina Alencastro, o ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que o Brasil percorreu menos da metade do caminho rumo a uma educação de qualidade. Segundo ele, será difícil alcançar a meta prevista para 2021, pois ainda falta fazer o dobro do esforço feito até agora.

Por que o Brasil demorará tanto tempo para alcançar os países da OCDE?
FERNANDO HADDAD: Porque esses países priorizaram a educação lá atrás. O Brasil começou a priorizar a educação agora. Em 1994, não faz tanto tempo assim, o Brasil aprovou emenda constitucional retirando recursos da educação. Dez anos (de prazo para alcançar a meta), você acha muito? São mais dois governos. Há estados que são governados pela mesma força política há 20 anos e estão exatamente na mesma situação de 20 anos atrás.

Dois governos é tempo razoável para mudarmos a situação da educação?
HADDAD: Para atingir o patamar de excelência dos Estados Unidos, da Itália, da Espanha, considero uma meta ousada. A Irlanda levou 40 anos para atingir o patamar.

É possível antecipar o cumprimento da meta?
HADDAD: Na verdade, se mantivermos o ritmo atual, essas metas serão antecipadas. Mas duvido que isso seja possível.

Por quê?
HADDAD: O ritmo está bem forte. O Ideb subiu um ponto em quatro anos. Subir um ponto significa que os alunos do 5 ano do ensino fundamental em 2009 têm a proficiência que alunos do 7 ano tinham em 2005. É como se o brasileiro tivesse saltado dois anos
em escolaridade.

Com
a nota 4,6 nós ainda estamos reprovados?
HADDAD: Quando você fala de uma escala de 0 a 10, você passa a falsa impressão de que faltam 5,4 pontos para a gente ter uma educação de qualidade. Na verdade nós aumentamos 0,8 e falta 1,4. Então, nós cobrimos quase 40% do percurso em quatro anos.

Mas ainda não chegamos a ter uma educação de qualidade, concorda?
HADDAD: Falta cobrir 60% do percurso. Isso significa que nós vamos estar numa situação de países que têm duas ou três vezes a renda >ita<per capita do brasileiro.

É difícil reconhecer que o Brasil ainda não tem um ensino de alto nível?
HADDAD: Não é isso. Se a qualidade estivesse caindo, o sinal que você tinha que dar para o sistema era de alerta. Nós, felizmente, tivemos uma inflexão dessa curva, que era decrescente. Desde 2005 é crescente. Então o sinal que você tem que passar é que temos um caminho pela frente. Mas temos que sinalizar que estamos na direção certa. Se eu não passar essa mensagem, à frente do cargo em que estou, posso sugerir para os 200 mil diretores e 2 milhões de professores que estamos vivendo a mesma situação de dez anos atrás. E não estamos. Na verdade, nós começamos a vencer a batalha. Falta muito ainda, mas a tendência é positiva.

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/07/2010 
Educação e democracia 
Editorial  

Embora fosse desejável, um grau de escolaridade mais elevado do eleitor brasileiro não acarretaria necessariamente mais "qualidade" no voto -seja lá o que isso signifique. A ressalva se faz necessária no momento em que o Tribunal Superior Eleitoral divulga estatísticas acerca do nível educacional do eleitorado. Diante dos dados, tradicionais questionamentos sobre a capacidade de escolha dos cidadãos reaparecem. A cada 5 brasileiros aptos a votar, 1 é analfabeto ou nunca foi à escola, revela o TSE. Tal eleitor, na visão de alguns analistas, votaria de forma menos "consciente" e teria menor capacidade de discernir as diversas propostas políticas e ideológicas que se apresentam. Sua decisão seria mais suscetível a estímulos imediatos, como benesses ou troca de favores. Políticos populistas e sem escrúpulos tenderiam a se beneficiar da situação. A "prova" do raciocínio estaria na falta de qualidade dos mandatários brasileiros. Mas o encadeamento de argumentos falha. Embora ainda baixa, a escolaridade dos eleitores tem crescido. A parcela dos que não frequentaram a escola era, segundo a estimativa do TSE, de 26,9%, em 2000, e é agora de 20,5% do eleitorado. De acordo com o Datafolha, a participação no conjunto do eleitorado das pessoas que têm no máximo o ensino fundamental completo também cai -elas representavam 67% dos entrevistados em 1995, 59% em 2000 e são 48% do total agora.

Seria de esperar que a qualidade dos congressistas brasileiros fosse melhor hoje do que há dez anos, portanto -e ainda muito melhor do que há 15 anos. Mas será difícil encontrar pesquisador que demonstre tal evolução. A qualidade do debate público, e portanto da política, melhorará, de alguma forma, com a elevação do nível educacional, mas é preciso evitar relações de causa e efeito simplistas, que mais se prestam a deslegitimar as escolhas e reforçar estereótipos equivocados. Ainda segundo o TSE, o Nordeste é a região brasileira que, proporcionalmente, mais concentra eleitores analfabetos ou pessoas que nunca frequentaram a escola -são 35% do total, contra 12% no Sudeste. Haverá alguém capaz de afirmar que políticos pernambucanos ou cearenses são, de forma geral, piores do que seus colegas do Rio e de São Paulo? 

PORTAL G1 - 22/07/2010
Enem deve servir para escolas repensarem métodos


Avaliação tem de funcionar como canal para aprimoramento. Ensino não pode ser reduzido a uma lista classificatória

Ana Cássia Maturano especial para o G1, em São Paulo  

As coisas são sempre avaliadas em educação. Os estudantes que o digam. Fazem prova disso e avaliação daquilo. São perseguidos pelos fantasmas das notas, cobranças dos pais e classificações escolares. E para que serve tudo isso? Essa é uma questão que parece se perder. Quando uma escola avalia seus alunos, seu principal objetivo deve ser o de apurar seu próprio trabalho. Dependendo de como for o desempenho dos estudantes, ela deve ou não prosseguir em sua maneira de propiciar o conhecimento e desenvolvimento cognitivo de seus alunos.

No geral, o que se percebe não é bem isso. As avaliações acabam sendo um fim em si mesmo e não um meio de crescimento. Assim, os alunos com notas altas são bons e com eles está tudo bem. Do contrário, têm um problema que deverão correr atrás. Não atingiram os objetivos propostos, não aprenderam, não se apropriaram do conhecimento que a escola detém. E o verdadeiro fim de uma escola, ajudar seus alunos a crescer, fica esquecido. Os métodos de avaliação, por sua vez, são só um modo de verificação de como as coisas andam no processo ensino aprendizagem, não são absolutos.

Tanto é assim que, observando a classificação das escolas de acordo com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), nota-se alguns disparates. Por exemplo, com a diferença de apenas um ano o primeiro lugar do Enem 2009 ocupava a décima posição no ano anterior. Isso não é nada se considerarmos um colégio do interior de São Paulo: saltou da 336ª posição para a quarta considerando o mesmo período. Ou essas escolas têm se aproveitado do Enem para reverem seus trabalhos, o que num tempo tão pequeno dificilmente surtiria um efeito tão grande; ou essa avaliação precisa ser revista, não sendo muito confiável.

Sem status - Essa e outras avaliações das instituições de ensino, assim como as dos alunos não devem servir apenas para garantir um status para quem é avaliado. Ano passado, algumas escolas tiveram problemas por não terem garantido um bom lugar na classificação do Enem. Foram questionadas pela sua clientela. Ela está no seu direito. Mas perpetuam aquilo que as instituições fazem com seus filhos – colocam todo o peso de um trabalho em um exame. Assim, ele é apenas usado para dizer se a escola é boa (como com os alunos), deixando de lado o que seria sua principal função: a de propiciar uma reflexão de seu trabalho e mudanças efetivas se necessário. No fim, os colégios acabam sendo vítimas de sua própria maneira de agir. Que as avaliações são necessárias, não há dúvida. No entanto, elas devem ser um meio de aprimoramento e crescimento. Ensinar e aprender é algo bastante dinâmico, não dá para reduzir a uma lista classificatória. É preciso mudar o modo de ver as coisas. Que a experiência das escolas com esse exame sirva para que elas repensem suas práticas.



 

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/07/2010 
Sobre as bibliotecas públicas de São Paulo 

O investimento em reformas de 37 bibliotecas atingiu R$ 7 milhões, enquanto R$ 9 milhões foram destinados à aquisição de livros novos

CARLOS AUGUSTO CALIL

A reabertura da seção circulante da Biblioteca Mário de Andrade, ocorrida ontem, é um excelente ponto de partida para discutir o acesso à leitura em São Paulo. Em editorial publicado na última sexta-feira, 16 de julho, o jornal "Agora São Paulo", do Grupo Folha, celebrou simpaticamente a reabertura da circulante, que oferece acervo renovado, com títulos que figuram entre as listas de mais vendidos, e afirmava que o modelo deveria ser multiplicado. É natural que a Biblioteca Mário de Andrade receba mais atenção da imprensa do que as outras 62 bibliotecas da rede municipal, pela sua importância histórica e cultural. Contudo, a renovação de acervos, associada a reformas estruturais de prédios públicos, vem sendo praticada pela gestão Serra/ Kassab desde 2005. O investimento em reformas de 37 bibliotecas atingiu R$ 7 milhões, enquanto outros R$ 9 milhões foram destinados exclusivamente à aquisição de livros novos.

Os resultados não tardaram: no último mês de junho, a frequência de público nas bibliotecas da cidade foi de 83 mil pessoas. O retorno do leitor à biblioteca é o reconhecimento do cuidado com o patrimônio público. Recente reabertura da Biblioteca Paulo Setúbal em Vila Formosa mereceu pouco destaque na imprensa. E, no entanto, o seu caso é exemplar. Engradada, voltada para dentro de si própria, escura e deprimida, o seu sólido edifício encantou um jovem arquiteto que a fez ressurgir em sua plenitude. Vale a pena avaliar essa revitalização, cujo custo foi de pouco mais de R$ 1 milhão. Em 2007, a Folha publicou uma nota na coluna "Há 50 anos" em que mostrava pela voz de Sérgio Milliet, ilustre diretor da Biblioteca Mário de Andrade, a necessidade imperiosa de impermeabilização da cobertura do prédio e de expansão de espaço para abrigar sua coleção de periódicos. O título da matéria de 1957 era: "Biblioteca tem filas e goteiras".

Por que ninguém ouviu o apelo do grande crítico? Por que tivemos de esperar 50 anos para atender aos seus reclamos? A intervenção em curso, iniciada em 2007, devolve à Mário o lugar que é só seu -na praça, na cidade e no país. Esse esforço faz parte de um programa de revitalização do centro e conta com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em parceria com a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura. Com a cessão do antigo prédio do Ipesp, na rua Bráulio Gomes, pelo governo do Estado, concretiza-se o desejo histórico da "segunda torre", dedicada exclusivamente ao acervo de periódicos. A obra de adaptação do edifício já começou, elevando o investimento na Mário de Andrade a mais de R$ 26 milhões. A biblioteca reabre plenamente no início do próximo ano e o seu anexo será concluído ao longo de 2011. Dessa forma, ela estará preparada para reassumir seu papel indispensável na cultura da cidade. CARLOS AUGUSTO CALIL, 59, é secretário municipal de Cultura de São Paulo e professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA/USP.



 

GAZETA DO POVO - 22/07/2010 - CURITIBA (PR) 
A educação nas escolas de agora 

Francisca Romana Giacometti Pari

marcado por avanços científicos e tecnológicos que nos obrigam a procurar propostas educacionais capazes de formar os alunos para a vida, o trabalho, o lazer, a conquista de seu espaço e a vi­­vência plena de sua cultura. Na esfera da educação escolar pú­­blica, nos são impostos múltiplos desafios. Todavia, considerando-se a prioridade e a urgência, um deles se destaca e se impõe: oferecer educação escolar a todos e por meio de uma proposta educativa que responda com qualidade às exigências atuais. Para tanto, a educação escolar brasileira necessita implementar um currículo que tenha como ponto de partida a realidade imediata e a cultura local e, como objetivo final, a construção, aquisição e am­­pliação de conhecimentos. A escola do futuro se faz com a escola do presente, e o agora agrega no seu contorno o passado, como história e memória de saberes, e o futuro, como projeto e desejo do que se quer aprender.

Afirmar que agora é a hora da escola é ter como premissa básica que o que se vive é o que se aprende. Ou seja, durante a vida escolar, é impossível ensaiar ou improvisar, uma vez que a relação entre os sujeitos e o objeto de conhecimento é vivida na dimensão real e concreta. Na escola do presente, a relação professor-aluno tem papel fundamental no processo educativo, mas depende do clima estabelecido, da capacidade de ouvir e discutir o nível de compreensão dos educandos e da criação da ponte entre o conhecimento do aluno e o da escola. Portanto, a troca de experiências na busca da aquisição de novos conhecimentos e novos caminhos a serem seguidos é essencial.

Para enfrentar esse desafio, a escola precisa dar conta da realidade presente e estar atenta ao seu en­­torno, visto que trabalha com tempos de médio e lon­­go prazo. Ela deve estar aberta ao mundo em que conhecimento, opiniões, manifestações artísticas e culturais circulam e se transformam com rapidez por meio de diferentes linguagens. Para construir alternativas de ação, planos e passos para a educação, avaliando continuamente o processo e os resultados, a escola do presente deve desenvolver um trabalho coletivo, com base na leitura dos limites e possibilidades do contexto escolar. É nesse cenário que são organizados os projetos pedagógicos, levando-se em conta a identidade da escola, porém vinculados com diretrizes mais amplas, definidas no campo social.

Educar é uma atuação mais abrangente do que ensinar e transmitir informações – compreende uma reflexão sobre os valores subentendidos no conhecimento adquirido. A escola, então, é o lugar em que se entrelaçam o ser, o conviver, o saber e o fazer, a produção intelectual e o conhecimento advindo do entorno social. É o espaço, portanto, onde se aprende a articular saberes para usá-los na resolução dos conflitos que se apresentam na realidade concreta. Nessa direção, o Agora Sistema de Ensino – novo sistema de ensino da Editora Saraiva voltado para as escolas públicas – apresenta sua proposta pedagógica como movimento e reflexão, buscando ancorar o caminhar educativo na aplicabilidade de cada escola. O material evidencia os valores, os conceitos de sociedade, humanidade, cidadania, educação e cultura, privilegiando o encantamento e o prazer em aprender para a formação de cidadãos livres e críticos.

O material proporciona possibilidades didáticas de aproximação entre o cotidiano e o contexto escolar, já que alguns conhecimentos, embora presentes no dia a dia, nem sempre se desvendam de forma a permitir a apreensão de seus conceitos e valores fundamentais. A compreensão dos conceitos, procedimentos e atitudes demanda do educando um exercício de reflexão, colocando-o como sujeito ativo do processo. Desse modo, o fazer didático exige uma atuação diferenciada do docente, que permitirá que o aluno possa desenvolver, de forma autônoma, a compreensão de outras formas em que tais conteúdos se manifestam. 


A NOTÍCIA - 22/07/2010 - JOINVILE (SC)
 
Jovens são o principal desafio do ministério

Tirar das estatísticas de analfabetismo os jovens em idade economicamente ativa é um dos grandes desafios do poder público, nos três níveis – municipal, estadual e federal. Em Joinville, 0,93% da população entre 10 e 17 anos não sabe ler, nem escrever. Essa população está concentrada, principalmente, na zona rural, e nos bairros com renda per capita baixa, como Morro do Meio e Vila Cubatão, por exemplo. Entre os alunos do Mutirão da Alfabetização, existe um pequeno percentual de jovens. Na turma de Danieli, por exemplo, há um menor de 14 anos que entrou na turma sem saber sequer a data do aniversário. Já o Programa Brasil Alfabetizado, do MEC, pretende atrair os jovens acima de 15 anos. Em Joinville, há quatro turmas cadastradas e 50 alunos em fase de alfabetização.


A NOTÍCIA - 22/07/2010 - JOINVILE (SC)
Índice maior entre quem tem mais de 45 anos


Segundo os últimos dados do Mapa do Analfabetismo no Brasil, divulgado pelo IBGE e pelo MEC, os índices de analfabetismo em Joinville são maiores entre as populações de 45 a 59 anos (5,4%) e 60 anos ou mais (14,8%). Os números estão acima da média da capital catarinense, Florianópolis, para as duas faixas etárias, que chegam aos 4,8% e 12,4%. Para Vanessa, é mais difícil atrair essa população para a escola, pois muitos sentem vergonha de voltar a estudar com pessoas mais jovens.

Na avaliação da professora da Universidade da Região de Joinville (Univille), Fabíola Possamai, esses dados também refletem uma opção do poder público em investir em programas voltados para outros públicos.

“Há políticas de escolarização em nosso País, mesmo que em muitas situações isso ocorra de forma precária. Crianças e jovens representam retorno financeiro mais garantido do que pessoas com idade mais avançada. Essas, que de algum modo, já estão mais ou menos estabelecidas”, afirma. O BB Educar e o Mutirão da Alfabetização são as principais as alternativas para essa faixa etária. Juntos, eles acolheram, este ano, 612 alunos. “Os casos de sucesso apontam que espaços comunitários de igrejas e de comunidades de bairro costumam ser mais atrativos que as escolas, porque expõem menos as pessoas nessa situação”, avalia Fabíola.


FOLHA DE SÃO PAULO - 22/07/2010
1 em cada 5 eleitores não foi à escola ou é analfabeto 

8 mi dizem que não sabem ler nem escrever, e 27 mi nunca tiveram aula. Nordeste é a região em que há mais eleitores em uma das situações, 35%; no Sudeste, eles somam 12% do total

DE BRASÍLIA

A cada cinco pessoas aptas a votar neste ano, uma é analfabeta ou nunca frequentou uma escola. São, ao todo, 27 milhões de eleitores nessa situação no cadastro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Desses, 8 milhões são analfabetos e 19 milhões declararam saber ler e escrever, mas nunca estiveram numa sala de aula. No total, há 135,8 milhões de eleitores no país em 2010. A pior situação é no Nordeste: enquadram-se em um desses grupos 35% dos eleitores. No Sudeste, são 12%. Os dados de escolaridade do TSE são uma estimativa, já que são fornecidos pelos eleitores no momento em que eles vão tirar o título e só atualizados caso ocorra uma revisão do cadastro. O percentual de eleitores que nunca frequentaram a escola caiu de 23,5% na última eleição presidencial, em 2006, para 20,5% neste ano.

O voto das pessoas com menos instrução e menos informação tende a ter menos ideologia e mais personalismo, diz o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Por isso, diz, Dilma Rousseff (PT) é quem tem mais condições de angariar votos desse grupo, uma vez que se beneficia da associação com a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Reis ressalva, por outro lado, que também têm grande influência os programas sociais e o aumento da renda dos mais pobres. Por ora, o quadro ainda é homogêneo entre os candidatos. Na última pesquisa Datafolha, há três semanas, a petista tinha 20% das intenções de voto entre os eleitores com escolaridade até o ensino fundamental, contra 16% de José Serra (PSDB). O tucano, por sua vez, tinha três pontos de vantagem entre aqueles com nível superior. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

CANDIDATOS - Nas eleições deste ano, o analfabetismo não é exclusividade dos eleitores. Saber ler e escrever é uma exigência da Justiça para disputar a eleição, mas, ainda assim, cinco candidatos declararam ao TSE serem analfabetos. Até 2004, os que se diziam analfabetos faziam uma prova para ter o grau de instrução avaliado. A partir de 2006, eles são chamados a fazer, no tribunal, declaração de próprio punho, afirmando que sabem ler e escrever.

(ANGELA PINHO E FERNANDA ODILLA)


FOLHA DE SÃO PAULO - 22/07/2010
Falta de instrução do eleitorado interfere no aperfeiçoamento da classe política 

LEONARDO BARRETO - ESPECIAL PARA A FOLHA

O Brasil possui 27 milhões de eleitores analfabetos ou que sabem ler e escrever, mas nunca frequentaram uma escola. O dado assusta e lança dúvidas a respeito da qualidade do voto que escolhe parlamentares e governantes. Afinal, como esse eleitor toma sua decisão? Quais são suas características e preferências? Para responder essas questões, é importante analisar a falta de instrução dentro de um quadro mais amplo. Normalmente, ela está associada a outros problemas como pobreza e falta de oportunidades. A literatura especializada costuma tratar esse tipo de eleitor como sendo mais vulnerável a propostas clientelistas de compra e venda de votos. Faz sentido. Não é o caso de dizer que essas pessoas são "eticamente inferiores". O problema tem outra natureza. Normalmente, as perspectivas de melhoria de vida delas estão ligadas a algum tipo de ajuda governamental. Políticos se oferecem como intermediários dessas pessoas junto ao poder. Caso ela precise de uma ambulância no meio da noite, por exemplo, saberá para quem ligar. Claro, o elemento de troca do eleitor seria o voto. Se isolarmos a variável educacional, o analfabetismo incidiria diretamente sobre a (in)capacidade do eleitor de acessar meios de informação ou de construir vários pontos de vista sobre uma questão. Esse eleitorado tende a replicar hábitos que lhes foram passados por costume, como voto por indicação.

A tendência desse grupo é replicar aquilo que o pai ou o avô faziam, sem muita capacidade crítica. Por esse motivo, é muito comum escutar, mesmo nos grandes centros, pessoas dizendo que irão votar "naquele candidato que der uma ajudinha para a família", assim como se fazia no tempo dos coronéis. Outra consequência é a falta de condições de enxergar diferença entre as alternativas políticas disponíveis. Esse é um problema fatal para a democracia, pois ela é um sistema interminável que funciona na base de "tentativa e erro": punindo os políticos ruins e premiando os bons. Se a capacidade de distinguir quem é quem é comprometida, a democracia perde atratividade. O dado sobre a falta de instrução do eleitorado mostra que o aperfeiçoamento da classe política passa pela qualificação dos eleitores. Ainda há muito por fazer.
LEONARDO BARRETO é cientista político e pesquisador da UnB 


FOLHA DE SÃO PAULO - 21/07/2010 
Uma lei que iguala o país 

A implementação da política de cotas para jovens negros nas universidades brasileiras é bom exemplo do alcance das medidas reparatórias

ELOI FERREIRA DE ARAÚJO 

O Estatuto da Igualdade Racial é um instrumento que oferece uma contribuição substantiva para a consolidação do Estado democrático de Direito. Tendo como pano de fundo a Constituição da República, se estabelecem, pela nova lei, as possibilidades legais para a superação do racismo, num país em que 50,6% da população é de origem negra. O Estatuto da Igualdade Racial é, pois, exigência da nação, para que o Estado brasileiro busque reparar as graves desigualdades raciais existentes em nossa sociedade. A implementação da política de cotas para jovens negros nas universidades brasileiras, que tem obtido resultados extraordinários, é um bom exemplo do alcance das medidas reparatórias. Contudo, sua adoção tem encontrado resistência em setores minoritários da sociedade, que, com argumentação diversionista, tentam impedir o ingresso da população negra no ensino superior. O Estatuto da Igualdade Racial define as ações afirmativas como sendo os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades. Desse modo, cumpre ao Estado brasileiro estabelecer as políticas públicas para alcançar sua missão constitucional, inclusive com cotas raciais.

Merece destaque também a definição de que os programas de ação afirmativa se constituirão em políticas públicas destinadas a reparar as distorções e desigualdades raciais e demais práticas discriminatórias adotadas nas esferas públicas e privadas. Mesmo com todas as evidências sobre a necessidade de inclusão da população negra, trazidas pelo debate contemporâneo, a resistência ainda existe. Portanto, para além do esforço para a conquista de corações e mentes contra o racismo, é preciso ter às mãos uma legislação estabelecendo a igualdade de oportunidades. As comunidades quilombolas, por exemplo, terão no Estatuto a norma legal que lhes assegura substância na defesa perante o Supremo Tribunal Federal de seu direito à terra, que vem sendo questionado. O Estatuto da Igualdade Racial garante os direitos das comunidades de religião de matriz africana, além de reconhecer a capoeira como patrimônio cultural imaterial e de reafirmar a obrigatoriedade do ensino da história da África e de cultura afro-brasileira nas escolas públicas e privadas, criando ambiente de afirmação da autoestima e de valorização da identidade nacional. Outros destaques são as diretrizes para a saúde da população negra, assim como para sua presença nos meios de comunicação, seu acesso a crédito, financiamento, moradia, Justiça e segurança, além da criação do Sistema Nacional de Promoção de Igualdade Racial. Este Estatuto representa o que há de mais moderno em políticas de ação afirmativa. É um documento de reafirmação da democracia, da busca incessante da paz e do progresso social por meio da igualdade de oportunidades, para que negros e negras possam fruir dos bens econômicos, culturais e sociais de forma permanente. ELOI FERREIRA DE ARAUJO é ministro-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República.


 

CORREIO BRAZILIENSE - 21/07/2010 - BRASÍLIA (DF)
Enem é alvo de polêmica nas instituições de ensino

O posicionamento de escolas feito por meio do desempenho de alunos no Enem é motivo de discórdia entre educadores. Para o professor da UnB Remi Castioni, o ranking pouco diz sobre a influência que a escola tem sobre o aluno e desconsidera a baixa adesão dos estudantes ao teste, que é facultativo. “A maior contribuição que o Ministério da Educação poderia dar com o Enem é o efeito escola, que estipula a relevância de uma escola no desempenho do estudante. Para um aluno de rede privada, que dispõe de muitos recursos e que já vem de uma trajetória acadêmica intensa, o Enem não significa muito. 

Mas é diferente para os alunos da rede pública”, avalia. Castioni defende que o modelo atual é centrado no aluno e que seria preciso separar os estudantes por classe socioeconômica para comparar o desempenho médio das escolas e qual foi a contribuição delas para a nota final. “O refinamento seria extremamente útil à sociedade, e não um ranking que diz que as escolas privadas são boas e as públicas, não”, critica.

Assim como Remi, Gláucia Araújo acredita que estudantes do DF não se empolgam muito com o Enem porque ele ainda não é uma garantia de acesso ao ensino superior, em especial, à UnB. “Muitos estão buscando as universidades. Se a UnB adotasse o Enem como meio de ingresso, o número de matrículas aumentaria significativamente”, diz. A UnB anunciou em junho que fará testes com o Enem a partir de 2011, usando os resultados do exame para preencher as vagas remanescentes. "Muitas outras escolas tentaram abrir outras unidades com padrão de qualidade menor e não deu certo. O Leonardo transportou toda a estrutura para Taguatinga" Sérgio Brum.

 

REVISTA ÉPOCA - 20/07/2010 
Educação é dinheiro 

Paulo Moreira Leite

Nossos pedagogos me desculpem mas estamos perdendo tempo quando se discute Piaget, construtivismo, educação com amor e assim por diante. A grande revelação do ENEM é nos lembrar que educação é dinheiro e lembrar que vivemos numa sociedade que oferece aos ricos aquilo que nega aos pobres. É uma situação para deixar qualquer um indignado. Claro que uma boa escola pedagógica pode ser mais útil do que outra. Mas há um abismo econômico que transforma essa discussão — em termos nacionais — uma simples futilidade. Ana Onaga, do UOL, fez a descoberta, que era uma dessas novidades à espera de uma repórter atenta. As despesas do Estado com cada aluno de escola pública equivalem a 6% daquilo que os pais das famílias de classe média desembolsam no Vértice, escola privada que saiu na posição de melhor do país. A mensalidade do Vértice está acima de R$ 2700 e vamos combinar que a maioria das escolas privadas não cobra tanto. Mas escolas que cobram R$ 1700 são menos raras do que se imagina. Neste caso, os pais gastam oito vezes mais do que o Estado com alunos de rede pública. Vamos pensar um pouco. Imagine que você chega num restaurante e pede um prato de arroz com feijão. Na hora em que é servido, o garçom lhe traz 6% daquilo que seu vizinho recebe. Pense no seu trabalho. Imagine o que é ganhar 6% para fazer o mesmo trabalho do que o seu colega do lado. Ou então, para ser mais modesto, e fazer a conta com base em escolas de mensalidade a preço médio, faça a comparação. Pense em apostar uma corrida contra um carro com motor oito vezes mais veloz. Imagine como é a merenda de uma escola com verbas 8 vezes menores. Ou professores que são contratados por orçamento equivalente a 1/8.

Nessa situação, não é de espantar que, entre as 20 melhores escolas do país, 18 sejam do setor privado e 2 façam parte daquele grupo de estabelecimentos de elite do Estado, onde o ingresso já é uma prova dificílima. Vivemos num país onde a desigualdade social é uma mazela de caráter histórico e essa distorção, que se reflete em tantos momentos da vida, também chega às mensalidades escolares, como uma perversidade e uma injustiça. As duas situações são absurdas. Famílias que investem em torno de R$ 30 000 por ano com a escola dos filhos fazem um sacrifício incompatível com aquilo que pagam em impostos. Mas famílias que entregam seus filhos para estabelecimentos precários, com 1/8 de recursos de uma escola de bom padrão, já sabem que pouco podem esperar da educação como possibilidade melhorar de vida e ampliar o conhecimento.

É um salve-se quem puder mas é fácil perceber que nem se salvam do mesmo jeito. É uma situação mantém, reproduz e até amplia desigualdades. Em tempo de eleição, os candidatos adoram anunciar que educação é sua grande prioridade. Recolhidos os votos, a conversa muda. Fala-se do despreparo de diretores e professores, há quem reclame que os pais não ajudam e até diga que as crianças são muito malcriadas. Consultores recebem oceanos de dinheiro para dar conselhinhos politicamente corretos. Mas essa comparação entre gastos no setor público e no setor privado deveria ajudar a mudar a visão de todo o país sobre educação. Chega a ser cinismo negar que na base de todos os problemas se encontra a desigualdade de recursos oferecidos a nossas escolas públicas. 

Observação: as notícias deste clipping são
meramente informativas, publicadas em jornais
diários. Portanto, não expressam a opinião do SINPEEM.


A DIRETORIA

CLAUDIO FONSECA
Presidente

http://twitter.com/sinpeem_oficial
http://twitter.com/pclaudiofonseca 

 

 

 

 

 

 

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