02/08/2010 – CLIPPING EDUCACIONAL
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FOLHA DE SÃO PAULO – 02/08/2010
Crise no casamento e na escola
Risco de baixo desempenho escolar é maior entre filhos de pais separados, mas pode ser evitado, mostra estudo
FABIANA REWALD DE SÃO PAULO
Logo após se separar da mulher, há cerca de dez anos, Analdino Rodrigues Paulino, 57, viu a filha mudar diversas vezes de escola. Enquanto os pais decidiam quem ficaria com a guarda da garota, ela tinha de se adaptar não só às mudanças na família como também na sua educação. Isso fez com que ela perdesse o interesse nos estudos e passasse a ter dificuldades na escola, conta o pai, que hoje é presidente nacional da Apase (Associação de Pais e Mães Separados). Paulino diz que, durante todo o tempo que passa com a filha -ele mora
"Ter o risco não significa que necessariamente irão apresentar esses problemas, quer dizer apenas que existe propensão", explica o neurologista e coordenador do projeto Marco Antônio Arruda. O principal objetivo do estudo, que também mediu fatores de risco para baixa saúde mental (leia mais ao lado), é justamente alertar pais e educadores para que os problemas sejam evitados. Por isso, o estudo foi editado em formato de cartilha, com recomendações de precaução contra baixo desempenho escolar e distúrbios mentais. Os dados completos serão apresentados no Congresso Aprender Criança, que começa na sexta,
LUTO - Especialistas em psicologia e educação consultados são unânimes em recomendar que os dados sejam encarados com cuidado. Isso porque não se pode dizer que a separação é uma causa para o baixo desempenho escolar. No entanto a maioria deles reconhece que a separação pode causar problemas emocionais à criança, o que pode se refletir na escola. "O desconforto emocional pode se refletir no desempenho escolar, em uma insônia ou uma hiperatividade", exemplifica a psicanalista Blenda de Oliveira, diretora da Casa Movimento. A psicopedagoga Maria Irene Maluf diz que esse período de adaptação, em que a criança passa por uma espécie de luto, dura de dez a 12 meses. "Passada essa fase, isso desaparece totalmente." A terapeuta familiar Roberta Palermo lembra ainda que, mesmo após a separação, ambos os pais devem se interessar pela vida escolar dos filhos.
"É importante que o pai não se torne apenas um provedor financeiro após a separação. Portanto, ele deve opinar na escolha da escola, deve estar presente nos eventos e reuniões. Ambos devem ter um discurso semelhante sobre o que esperam da vida escolar dos filhos e, quando não se entenderem, devem manter o respeito." TRABALHO DA ESCOLA - Já Marisa Melillo Meira, que é professora de psicologia da educação da Unesp de Bauru, acredita que o baixo rendimento não pode ser visto como um sintoma de distúrbio causado pela separação dos pais. "O desempenho da criança está diretamente ligado ao trabalho da escola."
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/08/2010
Universidade para os novos tempos
Mesmo mantendo o ritmo de crescimento, dificilmente o Brasil preparará a quantidade necessária de profissionais para atender a essa demanda
RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA
Hoje, o Brasil festeja os ventos que inflam a economia, louvando em prosa e verso tanto as perspectivas abertas no mar, com o pré-sal, quanto em terra, com a exploração da biodiversidade, o potencial da energia renovável, a proximidade da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. Por aí caminha o desenho do futuro risonho. Mas e o reverso da medalha? Sinais de fragilidade já são perceptíveis e, em boa parte, dizem respeito à crônica carência de capital humano, mais uma ameaça à sustentabilidade do desenvolvimento. A título de exemplo, pesquisas indicam que somente a construção civil -o tradicional carro-chefe da expansão da economia, dada a rapidez com que responde aos estímulos, absorve grandes contingentes de mão de obra, alimenta ampla cadeia produtiva e alavanca o consumo- amargará um deficit de 38,5 mil profissionais, que se multiplicará, caso se confirmem as previsões de crescimento do PIB a taxas acima de 5%.
O mais preocupante é que muitas dessas vagas não serão preenchidas por falta de profissionais capacitados. Adicionalmente, é também a construção civil que sinaliza para a ponta do iceberg que poderá emperrar as promessas de crescimento: a carência de engenheiros, resultante do desinteresse pela graduação que despencou da terceira para a 16ª posição entre os cursos mais procurados, de 1997 a 2006. Como resultado, o Brasil conta com 480 mil engenheiros, muito pouco para uma população perto dos 200 milhões de habitantes. A boa notícia é que os 2.032 cursos em funcionamento voltam a atrair alunos, registrando 140 mil matrículas neste ano. A má notícia é que, mesmo mantendo o ritmo de crescimento, dificilmente o Brasil preparará a quantidade necessária de profissionais para atender à demanda do crescimento.
Basta lembrar que, com o pré-sal, somente o setor petrolífero exigirá 150 mil engenheiros especializados. Ou, ainda, que cada milhão de dólares aplicado em novos investimentos produtivos abre vaga para mais um engenheiro. Como uma má notícia nunca vem sozinha, as empresas também detectam a carência de profissionais ligados aos vários ramos das formações em tecnologia, considerando que o mercado deverá gerar 100 mil vagas para tecnólogos até 2011 e mais 200 mil até 2015. Com exceções de praxe, esse deficit se repete em dezenas de outras áreas de atuação, visto que apenas cerca de 5 milhões de jovens chegam às faculdades (dados de 2007/ Inep), contra os 20 milhões, na faixa dos 16 aos 18 anos, que ficam à margem do ensino superior.
Apenas esses números -e, portanto, desconsiderando a má qualidade do ensino- recomendariam que os candidatos às próximas eleições incluíssem entre suas prioridades a revisão da matriz da formação profissional, dotando a rede de ensino superior de flexibilidade para propiciar, além da acadêmica, formações específicas para docência, pesquisa e habilitações para o mercado de trabalho. Com isso, atenderia às necessidades do crescimento e às aspirações dos jovens e das famílias de baixa renda que, ao terem acesso ampliado ao topo da pirâmide educacional, sonham principalmente em galgar um patamar superior de qualidade de vida. RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA é presidente do Conselho de Administração do Ciee/SP (Centro de Integração Empresa-Escola) e do Conselho Diretor do Ciee nacional. Foi secretário da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo (2001-2002).
FOLHA DE SÃO PAULO - 31/07/2010
Bom aluno ajudará criança com nota baixa
Rede paulista tenta melhorar média em matemática, aquém da desejada; se tiver êxito, projeto pode crescer. Tutores escolhidos no ensino médio auxiliarão estudantes de 6º e 7º anos; para educadora, há erro de prioridade
FÁBIO TAKAHASHI, DE SÃO PAULO
Na tentativa de melhorar o rendimento dos alunos em matemática, a Secretaria da Educação paulista implementará neste semestre projeto em que bons estudantes do ensino médio darão monitoria aos mais novos, com dificuldade nas contas. Em troca, receberão R$ 115 mensais, de bolsa e auxílio. Serão 400 tutores, que atenderão a 1.200 pupilos, num tipo de plantão tira-dúvidas em duas sessões semanais. Se tiver sucesso, a proposta pode ser ampliada. A rede possui 4,2 milhões de alunos. Para educadora da Unicamp, a ideia é positiva, mas insuficiente. Os monitores virão do 2º ano do ensino médio; os pupilos, do 6º e 7º anos. Serão selecionados com base em notas no Saresp (exame estadual) e boletins escolares. A ideia é que os tutores ajudem, por exemplo, na resolução de problemas passados pelos docentes. O projeto visa complementar o reforço já existente.
PONTO CRÍTICO - Matemática tem sido o ponto mais crítico do ensino público, tanto
FOLHA DE SÃO PAULO - 31/07/2010
Iniciativa é legal, mas parece uso de mão de obra barata, diz educadora
DE SÃO PAULO
A coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Maria Márcia Malavazi, afirma que a ideia de tutores proposta pela Secretaria Estadual da Educação é interessante, mas o governo paulista deveria priorizar ações mais estruturais. A professora cita como exemplo a melhoria da formação dos docentes da rede de ensino estadual. (FT) Princípio - Não é a primeira vez que o governo tenta melhorar a nota dos estudantes, que vai muito mal. Mas o princípio sempre é o baixo custo, como parece ser esse caso. - Prioridades - O programa é uma iniciativa legal. É interessante quando um aluno ajuda o outro. Os professores competentes podem estimular isso dentro das próprias classes. O problema é que são necessárias muitas outras coisas para melhorar o ensino, como cursos de altíssima qualidade para formação de professores, em turmas pequenas; menos estudantes por sala; e escolas com bom ensino integral. Nada disso nós temos. Assim, fica parecendo um programa que visa usar mão de obra barata. Financiamento de bancos - Precisamos melhorar a educação. Se o projeto é bom, que venham investimentos estrangeiros. Lamentavelmente temos de aceitar. Deveríamos ter condições de financiar os nossos programas, mas como isso não ocorre, devemos ao menos ter equipes para acompanhar aquilo que foi acordado. Senão, ficamos nas mãos deles, sem saber quais são as intenções dessas políticas externas.
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CLAUDIO FONSECA
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