17/08/2010 - CLIPPING EDUCACIONAL

NOTÍCIAS – FIQUE POR DENTRO


FOLHA DE SÃO PAULO - 16/08/2010

Pais barram filho deficiente na escola

Principal razão para não incluir criança na rede comum é crença de que ela não conseguirá aprender, diz pesquisa. Levantamento do governo federal foi feito com famílias pobres que recebem ajuda para gastos com deficiente

ANTÔNIO GOIS DO RIO / CLÁUDIA COLLUCCI - DE SÃO PAULO

As barreiras que dificultam a inclusão de crianças com deficiência em escolas comuns não são apenas físicas. Muitas vezes, elas começam na própria casa. Foi o que detectou pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Social com 190 mil famílias que recebem o Benefício de Prestação Continuada, por terem em casa criança ou jovem com deficiência, física ou intelectual. O estudo mostrou que a maioria (53%) das famílias cujas crianças não estavam na escola apontou como razão o fato de considerar que os filhos não tinham condições de aprender. O benefício, previsto na Constituição, é pago apenas a famílias com renda per capita inferior a R$ 127,50 (um quarto do salário mínimo).

A coordenadora-geral de acompanhamento dos beneficiários, Elyria Credidio, diz que é preciso considerar que essas famílias investigadas na pesquisa vivem em situação de pobreza, antes de acusá-las de preconceito. "São pessoas que, muitas vezes, já tentaram acesso ao posto de saúde ou a uma escola, mas não foram bem atendidas e não estão conscientes a respeito dos seus direitos. Ainda estamos em processo de transição para uma educação inclusiva para todos", afirma Elyria. Para Teresa Costa d'Amaral, superintendente do IBDD (Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência), o sentimento de descrédito em relação aos filhos deficientes é retrato do que a sociedade acredita. "Também tem em casa um sentimento de proteção, que é um fator de exclusão. Mas é explicável. A inoperância do Estado brasileiro com as pessoas com deficiência é grande. O Estado se omite em todos os níveis. É explicável que o pai prefira que o filho fique em casa, protegido."

AVANÇOS - A procuradora da República em São Paulo Eugênia Fávero destaca avanços recentes na política de inclusão, como aumento do financiamento federal a escolas que atendem deficientes em classes comuns. Ela diz, porém, que ainda não há entendimento geral de que é direito dessas crianças estudar com as demais na mesma sala. No entender dela, o direito da criança se sobrepõe inclusive ao dos pais de escolher se preferem atendimento exclusivamente em escolas especiais, posicionamento com o qual nem todas as associações que representam deficientes concordam. Eugênia lembra que as dificuldades para matricular essas crianças em escolas regulares não se restringem a famílias de baixa renda. Dados do Censo Escolar do MEC reforçam o argumento. Enquanto em escolas públicas o percentual desses alunos na mesma sala que os demais chega a 70%, na rede privada, o percentual de incluídos é de apenas 8%. "Ainda é comum as escolas, principalmente as particulares, quererem escolher a clientela que atenderão, usando o argumento de que não estão preparadas para receber alunos com deficiência", diz a procuradora. Teresa, do IBDD, concorda: "O Brasil não aprendeu a acreditar no potencial das crianças com deficiência. Imagine se a nossa sociedade daria crédito a ensinar alguma coisa ao Stephen Hawking [físico inglês com esclerose lateral amiotrófica]?".
 

FOLHA DE SÃO PAULO- 16/08/2010 
Com paralisia, Kaio, 8, só foi aceito em colégio público na sexta tentativa 

DE SÃO PAULO

Quando decidiu matricular Kaio, 8, em uma escola regular, o pai Raimundo Nonato Souza, 30, não imaginava que seria tão difícil. Natural do Maranhão, o menino sofreu paralisia cerebral ao nascer e tem problemas de locomoção e de fala. Em cinco escolas públicas da zona sul de São Paulo visitadas pelo pai, a recepção foi desanimadora. "Ninguém disse "não" diretamente, mas falavam que a escola não estava preparada para receber meu filho, que não tinha professor e que era melhor eu procurar um outro lugar que pudesse cuidar melhor dele", relata o pai, que é garçom. Na sexta escola, a diretora não só aceitou a criança como transferiu a turma da primeira série para o térreo, só para facilitar o acesso de Kaio, que se locomove com a ajuda de aparelhos. O mesmo aconteceu este ano, quando o garoto passou para a segunda série. Poucas escolas do país têm elevador ou receberam obras para acessibilidade. "Ele adora a escola e os colegas. Não tem tempo ruim. De manhã, chamo uma vez e ele já está acordado, todo animado, não é Kaio?". Corintiano roxo, o garoto assente com a cabeça, sorrindo.

MARATONA - Kaio também frequenta a Apae no contraturno e faz fisioterapia e natação na Universidade FMU. O pai só conseguiu transporte especial (pelo programa Atende, da Prefeitura de SP) dois dias na semana. O restante, ele mesmo leva e busca o menino no seu já rodado Corsa 99. Para dar conta da maratona diurna, Souza trabalha à noite e dorme três horas, em média. "É uma vida dura, mas o importante é ver o Kaio superando as limitações." De acordo com o pai, na escola, o filho consegue copiar o conteúdo das lições, mas ainda tem dificuldades de se expressar. "Em casa a gente entende tudo o que ele diz. Tenho muito orgulho do meu garoto." (CC)
 

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/08/2010
Entidades divergem sobre como fazer a inclusão em escola 

DE SÃO
PAULO DO RIO

O tratamento dado pelo governo federal às Apaes ressurgiu como tema nos jornais depois que, em debate realizado neste mês na Band, o candidato José Serra (PSDB) acusou o Ministério da Educação da gestão Lula de perseguir essas entidades. Por trás das críticas está uma divergência sobre a melhor forma de incluir essas crianças em classes comuns. O Ministério da Educação, apoiado por entidades como a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, entende que é direito de todos os deficientes a matrícula em escola regular. Para a Federação Nacional das Apaes, o governo pressiona pela inclusão, sem preparar a rede, e retira recursos de entidades que fazem atendimento em salas especiais.

O ministro Fernando Haddad (Educação) nega perseguição, afirmando que o governo inclui no Fundeb (fundo que distribui recursos federais) as Apaes como forma de estimular o atendimento no contraturno escolar, mas sem obrigar que essas entidades deixem de atender os alunos excepcionais. O debate expõe realidades distintas no país. Em São Paulo, por exemplo, os 462 alunos da Apae assistem aulas na escola regular e, no contraturno, frequentam a associação. A instituição dá assessoria a 80 escolas públicas da zona sul da capital, capacitando docentes da rede. "Todo processo de mudança tem as suas dificuldades, mas ele está de acordo com o que a gente acredita que deva ser a inclusão da pessoa com deficiência", afirma a superintendente da Apae-SP, Aracelia Costa. Já no Espírito Santo, muitos pais não aceitam que seus filhos sejam matriculados em escolas regulares e passem a frequentar as Apaes apenas no contraturno. Segundo Rodolpho Luiz Dalla Bernadina, presidente da Federação das Apaes do Espírito Santo, os pais têm medo de colocar uma criança com deficiência na escola. "As escolas não estão adaptadas, os professores não estão habilitados e o processo se torna traumático." (CC e AG)
 

FOLHA DE SÃO PAULO -  16/08/2010
Só conhecimento teórico não forma bom professor

DOCENTES TAMBÉM PRECISAM DE TÉCNICAS PARA TRANSMITIR CONHECIMENTO, INSPIRAR CRIANÇAS E MANEJAR SALA DE AULA
ANTÔNIO GOIS DO RIO

Quando, aos 21 anos, começou a dar aulas, Doug Lemov, 42, conta que ouviu conselhos como "espere o máximo dos seus alunos todo dia" ou "tenha altas expectativas sobre seu desempenho". No momento em que ficava em frente aos estudantes em sala de aula, porém, isso lhe parecia pouco útil. No meio de tantas frases de efeito, um professor mais experiente lhe falou algo bastante concreto: "Quando precisar dar instruções aos alunos, não faça isso caminhando pela sala enquanto distribui papéis. Eles precisam entender que o que você fala é mais importante do que qualquer outra tarefa". Foi a partir de dicas práticas como essa que Lemov, hoje diretor de uma rede de escolas nos EUA, passou a prestar atenção nas técnicas dos melhores professores. Sua obsessão em descobrir o que faz o docente top quando fecha a porta de sua classe o levou a filmar por seis anos aulas de profissionais que conseguiam, mesmo em situações adversas, que seus alunos aprendessem. Este trabalho virou livro de repercussão nos EUA, com 150 mil cópias vendidas, e que será lançado em outubro no Brasil, com o nome "Aula Nota 10" (Fundação Lemann e editora Da Boa Prosa). Nele, Lemov descreve em termos bem práticos 49 técnicas de bons professores. Podem não ser frases glamourosas, mas funcionam. Em entrevista à Folha, o autor diz que seu livro não menospreza o conhecimento teórico. Apenas argumenta que, em vez de aprender apenas a partir de teorias, professores precisam olhar para o que fazem seus colegas com melhor desempenho. 

Folha - Seu livro pode ser entendido também como crítica ao modo como se formam professores hoje nos EUA, com currículos que enfatizam demasiadamente teorias pedagógicas e deixam pouco espaço para o ensino de questões práticas de sala de aula. Como foi a repercussão?
Doug Lemov - Pela resposta que tive, percebi que o problema na formação de professores nos EUA é mais profundo do que imaginava. Alguns me disseram que as ideias do livro eram muito intuitivas. Outros, que não havia nenhuma grande revelação e que o livro era até óbvio. Sinceramente, considerei elogio, pois isso revela que há mais pessoas que pensam da mesma maneira. Eu tinha também algum receio de o livro não ser bem recebido por professores de escolas públicas, já que trabalho numa organização que mantém escolas "charters" [geridas pela iniciativa privada, mas financiadas pelo poder público para atender gratuitamente alunos pobres] e, nos EUA, tem havido muita disputa em torno deste tema. Mas acho que os professores entenderam que o livro pode ser útil para seu trabalho, não importa em que tipo de escola eles ensinam. Só não tive resposta nenhuma das autoridades educacionais, responsáveis pela política de formação de professores. Deles, percebi um silêncio retumbante.

O que explicaria isso?
Talvez achem que eles estejam certos e eu, equivocado. Talvez porque estejam numa postura defensiva, se sentindo ameaçados com os que criticam a política atual de formação. Não estou certo de que as pessoas responsáveis pela formação de professores tenham em mente que o aprendizado das crianças tem que ser a prioridade.

Ao enfatizar a importância de aprender técnicas de manejo de turma em sala de aula, você não estaria menosprezando a formação teórica?
Em nenhum momento digo que o conhecimento teórico não é importante. Pelo contrário, é dramaticamente importante. Se você vai ensinar matemática, você tem que ter uma boa formação em matemática. Mas meu ponto é que só isso não faz de alguém um bom professor. Acho que as técnicas que descrevo são úteis inclusive para docentes que têm amplo conhecimento da disciplina que lecionam. Imagine uma escola pública em área pobre que esteja precisando de um professor de física. Hoje em dia, já é difícil achar alguém que conheça bem a disciplina e esteja disposto a dar aulas. Mas, se as pessoas com boa formação em física souberem também técnicas para fazer boas perguntas, inspirar crianças e manejar uma sala de aula, triplicaríamos o número de pessoas capazes de dar boas aulas. Meu livro trata muito mais de como transmitir o conhecimento para os alunos. Quando você é especialista em algo, seu conhecimento sobre o tema é quase intuitivo. Isso pode significar que não seja natural para você pensar em formas de transmitir isso para estudantes.

No Brasil, há muitas críticas aos formatos tradicionais da sala de aula, pouco atrativos para jovens do século 21. No entanto, muitos professores reagem argumentando que a sala de aula não é um circo, e que aprender nem sempre é divertido. Qual sua opinião?
Não acho que tenha que se escolher entre um modelo ou outro. É certo que você deve inspirar os alunos e atrair sua atenção, mas é preciso também fazê-los trabalhar duro. Só não entendo como algumas pessoas resistem tanto em melhorar. Se você me disser que há coisas que possa fazer para ser um pai melhor, eu vou querer aprender, mesmo que eu já me considere o melhor pai do mundo. Se em sua escola há uma maioria de professores desmotivados ou desinteressados em melhorar, é difícil ser o que dará o primeiro passo. Mas, se você dá esse passo, outros o seguirão, e isso se tornará uma bola de neve.

Mas, no Brasil, professores muitas vezes dão aulas em situações precárias. Como cobrar entusiasmo de um profissional nessa situação?
É certamente mais fácil ser um ótimo professor numa escola maravilhosa. Mas, mesmo nas piores escolas dos Estados Unidos, há sempre um, dois ou três que se destacam, e, no meu livro, eu destaco principalmente o trabalho de professores que dão aulas para alunos mais pobres. Mesmo não conhecendo bem o Brasil, tenho certeza de que há bons profissionais mesmo em escolas de pior desempenho. Meu ponto é que, em vez de aprender só com teorias, também deveríamos aprender com exemplo dos ótimos professores.

Há, porém, escolas que facilitam o trabalho desses bons professores e outras que dificultam. Quais características você identifica nas que apresentem bons resultados?
Em primeiro lugar, são escolas preocupadas, acima de tudo, no aprendizado do aluno. Parece bobo dizer isso, mas, na prática, nem sempre é o que acontece. Em segundo, há também uma constante análise de resultados, para identificar os pontos fracos e corrigi-los. Por último, são locais onde o professor se sente valorizado e respeitado.

E o que um diretor precisa fazer para motivar a equipe?
Sei que é comum o ceticismo de professores em relação a aperfeiçoamento. Em parte, eles têm razão, pois muitos conselhos ou treinamentos dão em nada. Mas fazer os professores confiarem no seu trabalho é um resultado, e não uma pré-condição. É preciso mostrar que você é capaz de ajudá-los a serem melhores. Se você consegue fazer isso ao menos com uma minoria, é natural que outros vejam o resultado e passem a acreditar em você.
 

FOLHA DE LONDRINA - 16/08/2010 - LONDRINA (PR)
ofotes para a educação

'A ampliação da hora- atividade do professor da escola pública para 33% de sua carga horária proporcionará um ganho qualitativo no exercício da profissão'

Luciana Cristina da Costa Audi

Enquanto os holofotes focam exageradamente temas diversos, assuntos de tamanha grandeza como questões que afetam diretamente a educação dos nossos filhos ficam relegados a segundo plano. É triste o cenário brasileiro que pouquíssima importância dá à educação, fator fundamental para o desenvolvimento do país. Têm sido constantes as discussões acerca da ampliação da hora-atividade do professor da educação básica nas escolas públicas do Paraná. A ''Hora-atividade é o tempo reservado ao professor em exercício de docência, para estudos, avaliação e planejamento, realizado preferencialmente de forma coletiva'' (lei complementar nº 103/2004 - Estado do Paraná). Os atuais 20% de hora-atividade, que correspondem a 8 horas numa carga horária de 40 horas semanais, não são suficientes para um professor preparar aulas que atendam em média 8 a 12 turmas (muitas vezes de diferentes séries e escolas) e um contingente de aproximadamenteá 320 a 480 alunos. Grande parte dos professores da rede estadual de educação trabalha em média quarenta horas semanais, muitas vezes em diferentes e distantes escolas, acarretando falta de tempo para preparar suas aulas, seus materiais ou mesmo para pesquisar e se manterem atualizados.


Com a aprovação da Lei Federal 11.738/08, os professores passaram a ter o direito à ampliação da hora-atividade para 33% de sua carga horária, ou seja, a usufruir de 12 horas para a preparação de aulas e atualização profissional. Mas o ex-governador Roberto Requião impetrou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) no Supremo Tribunal Federal (STF), impedindo a aplicação da citada lei e, consequentemente, a extensão da hora-atividade dos professores paranaenses. Ao atuar como professora da rede estadual percebi que, além das problemáticas inerentes à questão, há o agravante de que os debates ocorrem apenas entre as esferas dos profissionais do ensino e os legisladores. A sociedade como um todo, além de não ter conhecimento destas discussões, não tem tido a oportunidade de posicionar-se diante de assuntos que dizem respeito a todos nós. Talvez não seja do conhecimento de todos, mas uma significativa parte do trabalho do professor é desempenhada fora da sala de aula, especialmente na preparação das aulas e correção de atividades dos alunos. É evidente e necessária a valorização deste momento que o professor utiliza para preparar suas aulas e também se atualizar.

A ampliação da hora-atividade do professor da escola pública para 33% de sua carga horária proporcionará um ganho qualitativo no exercício da profissão e, consequentemente, na educação em nosso Estado. Carecemos urgentemente de transformações nas condições objetivas do trabalho do professor na escola pública. Transformações estas que garantam espaços nos quais estes profissionais possam reunir-se, discutir seus próprios trabalhos, problematizá-los como um meio de aperfeiçoar-se profissionalmente e aplicar corretamente a transposição didática dos saberes científicos. A educação sob este olhar permitiria aos alunos que os conhecimentos construídos em outros espaços fossem reconstruídos e experienciados no contexto sócio-histórico em que vivem, oportunizando-lhes o exercício da cidadania. Nesse contexto, a ampliação da hora-atividade viabilizaria a atualização e a socialização entre professores, resultando em uma educação de melhor qualidade, além do crescimento deste profissional da educação. Direcionar os holofotes para este assunto em questão levaria luz para um tema tão importante para o desenvolvimento do país, o que seria o passo inicial para minimizar a distância entre a educação que temos e a educação que queremos.

DIÁRIO CATARINENSE, 16/08/2010 - FLORIANÓPOLIS (SC)
Experiência radical

Editorial  

Numa iniciativa em relação à qual as opiniões se dividiram, o governo de São Paulo decidiu pagar até R$ 50 a alunos do Ensino Fundamental, com idade entre 11 e 12 anos, para que se disponham a recuperar notas baixas participando de aulas de reforço em matemática disciplina na qual os resultados da rede estadual são piores. A decisão é compreensível. A polêmica também. O poder público precisa se preocupar com o baixo nível de aprendizado nessa faixa e com os elevados percentuais de reprovação. A dúvida é se a forma adequada de motivar alunos com dificuldade de entender conteúdos didáticos é premiá-los com dinheiro. Ainda que se reconheça na iniciativa uma certa ousadia para enfrentar um problema crônico no ambiente escolar, que é o baixo rendimento, os riscos são maiores do que os benefícios visíveis.

A experiência aplicada em São Paulo prevê que o dinheiro será dado diretamente ao estudante, e não a sua família. O valor é proporcional à presença nas atividades, realizadas duas vezes por semana, em sessões de 90 minutos, por três meses, comandadas por estudantes do Ensino Médio. Se não faltar nenhuma vez, o aluno do grupo contemplado com a iniciativa terá direito ao valor máximo ao final do período. Não se vislumbra, porém, nenhuma salvaguarda para evitar que estudantes se desinteressem pelo próprio rendimento a fim de se habilitar ao reforço remunerado.
Assim como ocorre no caso do Bolsa Família, de âmbito federal, essa é uma iniciativa que precisa prever uma porta de saída, para impedir que se desvie para o mero assistencialismo. E, como insistem educadores, é preciso realmente ficar bem claro que se trata de um estímulo a alunos em dificuldades e não de um prêmio capaz de incentivar o descompromisso com o estudo. A verdade é que essa experiência reflete, acima de tudo, a incapacidade do sistema educacional e das famílias de encaminhar as crianças ao estudo sem a necessidade de pagá-las para isso. É preciso ficar claro também que a motivação não depende apenas dos alunos, mas também de professores adequadamente treinados e bem remunerados.

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/08/2010 
Escola de vampiros

Currículos distantes da realidade e professores desmotivados, tudo isso "vampiriza" os jovens

GILBERTO DIMENSTEIN

UMA EXPERIÊNCIA em diversos bairros da periferia de São Paulo, desenvolvida desde 2004, está mostrando como fazer com que jovens se encantem pela leitura. É um desafio que está no topo de agenda de comunicadores, escritores e educadores de todo o mundo, todos buscando fórmulas para agarrar a atenção de novos leitores. Uma equipe de avaliadores constatou que aqueles que passaram por essa experiência leem muito mais (precisamente 67%) revistas, livros e jornais do que seus colegas de mesma situação econômica e moradores das mesmas comunidades. O resultado está sendo divulgado neste período em que tanto a Flip como a Bienal do Livro discutem o medo de que o leitor de obras mais complexas esteja desaparecendo. Para chamar a atenção de crianças e adolescentes, a Bienal aproveitou a sexta-feira 13 e a onda da série "Crepúsculo" e fez do Zé do Caixão uma de suas estrelas para brincar com a curiosidade sobre a morte. Aquela iniciativa, que desenvolveu uma série de atividades para despertar a curiosidade pela vida, ocorreu em bairros da periferia, que vivem o terror da violência em seu cotidiano. Tomou-se consciência de que lá existe outro tipo de vampiro, bem diferente do da ficção.
Batizado de Jovens Urbanos, o programa convida moradores da periferia paulistana de 16 a 21 anos para descobrir a cidade e suas possibilidades. O projeto, desenvolvido pelo Cenpec, uma espécie de laboratório de experimentações de aprendizagem, organiza uma sequência de provocações intelectuais destinadas a despertar a curiosidade. Durante 16 meses, são oferecidas oficinas de tecnologia digital, imagem e som, hotelaria e gastronomia, moda, design, arquitetura, tudo isso em meio a passeios pela cidade. Nos últimos três anos, conheci alguns desses jovens, que, sem exagero, pareciam viver em guetos. Poucos já tinham ido a um cinema. Tinham tamanha defasagem educacional que dificilmente conseguiriam ler um texto com um mínimo de complexidade. Como eles seriam se não tivessem passado por essa vivência? Para responder cientificamente a essa questão, pesquisadores montaram um grupo de controle. Eles acompanharam jovens de mesma idade, cor, gênero, renda e moradores do mesmo bairro dos frequentadores do programa. Viu-se que os garotos do projeto Jovens Urbanos obtiveram, além da descoberta da leitura, emprego, uma renda maior no trabalho e até mais interesse em desenvolver ações comunitárias. Logo teriam, melhor desempenho na escola do que o verificado no grupo de controle, certo? Errado. É aqui que aparecem alguns dos vampiros que sugam a perspectiva da juventude brasileira que vive nas periferias. Estamos lidando com a síntese da crise social brasileira, a mistura de jovens e a precariedade das metrópoles, onde fica a usina da violência, com baixas perspectivas.

Apesar de terem recebido tantos estímulos durante tanto tempo e, inclusive, uma bolsa mensal em dinheiro, os Jovens Urbanos não demonstraram nenhuma superioridade escolar em relação aos integrantes do grupo de controle. Embora tenham ficado mais interessados pela vida, começado a ler livros, jornais e revistas e resolvido melhorar suas comunidades, a escola não entrou em seus planos. Na verdade, eles não vislumbram utilidade na escola. Currículos distantes da realidade, professores desmotivados, infraestrutura precária, tudo isso "vampiriza" os jovens, sugando seu prazer de aprender -e a perda da vontade de descobrir está mais perto da morte do que a extinção física no meu entender. Uma das piores notícias da semana passada foi a queda do número de estudantes oriundos da escola pública que ingressam na USP, fato que se verificou apesar das medidas lançadas nos últimos anos para facilitar o acesso ao ensino superior. Uma das melhores ideias dos Jovens Urbanos é a escola passar a operar em tempo integral e tornar-se um local de experimentações ligadas ao cotidiano, dessas que fazem da cidade uma sala de aula. Está aí um dos melhores projetos de longo prazo para o país. É assim que se fazem leitores e cidadãos. PS- Por se tratar de uma tecnologia social, o projeto Jovens Urbanos, desenvolvido pelo Cenpec e apoiado pela Fundação Itaú Social, será apresentado em todo o país. Há mais detalhes sobre isso no meu site (
www.dimenstein.com.br).


FOLHA DE SÃO PAULO - 14/08/2010 
Compram-se alunos
 

Editorial 

Foi infeliz, e deveria ser abandonada, a ideia do governo de São Paulo de oferecer recompensa monetária aos estudantes da rede pública que aceitarem tomar aulas de reforço em matemática. Mesmo de um ponto de vista estritamente pragmático, é difícil crer que uma cédula de R$ 50, entregue às mãos de uma criança de 11 ou 12 anos de idade, represente o incentivo melhor e necessário para a frequência às sessões extras de estudo. É de educação que se trata e é dessa perspectiva que a iniciativa precisa ser avaliada. Que tipo de lição o poder público dará aos estudantes de 6º e 7º anos ao lhes oferecer dinheiro em troca do comparecimento à sala de aula?

A atribuição de preço específico, seja ele qual for, a valores que não podem nem devem ser trocados no mercado tende a debilitá-los. Há comportamentos que devem ser perseguidos independentemente do benefício material que possam gerar. Esse princípio vale para a honestidade e o respeito ao próximo. Vale também para o esforço escolar. Parece óbvio, mas o governo do Estado, ao que tudo indica, não aprendeu essa lição.
É lamentável, sobretudo, que essa proposta enviesada venha macular um esforço elogiável da atual gestão para melhorar o desempenho dos alunos em matemática, verdadeiro calcanhar de aquiles do ensino público no país. O projeto de tutoria acerta ao organizar aulas de reforço da disciplina, oferecidas pelos bons estudantes do ensino médio a seus colegas na etapa fundamental. O temor de que os mais novos faltem ou desistam do programa é que veio incluir a recompensa argentária na discussão. Há outros meios para manter as crianças em sala de aula. É preciso melhorar a qualidade e a motivação dos professores e as condições de infraestrutura dos colégios, tornando-os mais atrativos para os alunos. Quanto custará, ainda, para o poder público realizar com competência esse trabalho?
 


ESTADÃO.EDU - 13/08/2010 
A censura moralista
 

Análise da professora Marisa Lajolo sobre a distribuição de livros nas escolas brasileiras. Há tempos que a leitura está em pauta. E, diz-se, em crise

José Patrício
/AEA professora Marisa Lajolo

Comenta-se esta crise, por exemplo, apontando a precariedade das práticas de leitura, lamentando a falta de familiaridade dos jovens com livros, reclamando da falta de bibliotecas em tantos municípios, do preço dos livros em livrarias, num nunca acabar de problemas e de carências. Mas, de um tempo para cá, pesquisas acadêmicas vêm dizendo que talvez não seja exatamente assim, que brasileiros leem, sim, só que leem livros que as pesquisas tradicionais não levam em conta. E, também de um tempo para cá, políticas educacionais têm tomado a peito investir em livros e em leitura. Vários são os programas que distribuem livros à escola pública e a seus alunos, realizando com este gesto, o velho sonho do poeta Castro Alves, que em meados do século XIX conclamava "Semeai livros, livros a mancheias, fazei o povo pensar". A distribuição de livros a alunos, assim, segue na esteira de um grande poeta e, quando se segue um poeta, dificilmente se erra... Ou seja, tais programas são acertadíssimos.

O caso, no entanto, é que muitas vezes os livros distribuídos às escolas desagradam pais e educadores que acreditam que certas temáticas são – para dizer o mínimo – deseducativas. É claro que é ótimo que pais e mestres se preocupem com o que leem seus filhos e seus alunos. Melhor ainda seria que eles se preocupassem também – sempre e muito – que seus alunos e filhos lessem. Mas, de qualquer maneira, discutir livros e leituras é sempre importante quando a questão maior é a educação que se quer. O que não é nada ótimo é quando a discussão sobre o que leem os jovens passa a ser pautada pela censura moralista que vê, na temática de certos livros, riscos para... Para o que mesmo? Para a saúde psíquica? Para a moral? Para o comportamento dos jovens? Para tudo isso? Certas religiões não admitem livros que falem de bruxas e de magos, algumas pedagogias expulsam dos contos de fadas a figura da madrasta malvada ou das cantigas de recreio a dona Chica-ca-ca que atirou o pau no ga-to-to. Mas campeões de reclamações, às vezes ásperas e estridentes, são os livros que trazem questões de sexualidade para linhas, entrelinhas e ilustrações.

É muito bom que os adultos responsáveis pela educação dos jovens – isto é, família e escola – se preocupem com os valores que, fazendo a cabeça da moçada, formatam a personalidade e inspiram atitudes e comportamentos. Mas é também extremamente ingênuo acreditar que livros, por si, são capazes de degenerar valores, ou induzir comportamentos indesejáveis. Se os livros tivessem toda esta força, estaríamos bem servidos: a Bíblia – livro acima de qualquer suspeita – é o grande best-seller do mundo ocidental. Mas os livros (infelizmente?) não têm sempre esta força toda. Livros, hoje em dia, quase nunca são o meio de comunicação que, com mais eficiência, faz a cabeça das pessoas. O otimismo de nosso poeta baiano – o livro caindo n´alma/ é germe que faz a palma/ é chuva que faz o mar – talvez não se aplique a nosso tempo. Hoje, o livro tem sérios concorrentes na tarefa de fazer o povo pensar. O que a televisão transmite, o que se acessa pela internet e o que nos seduz em outdoors talvez tenham muito mais força do que as páginas do volume que lemos. E, face a todas estas mídia, somos mais passivos do que somos face a um livro, sobretudo um livro em torno do qual escola e família podem propor atividades, instigar discussão e reflexão.

Mas, por que um ou outro título, dentre os distribuídos a alunos de escolas públicas, causa polêmica? Porque lidam com a sexualidade e a sexualidade foi sempre um tabu. Na cultura brasileira, a forma de lidar com este tabu parece ser, preferencialmente, excluir a sexualidade do discurso dirigido a crianças e jovens. Do desacerto desta opção fala, por exemplo, o espantoso número de adolescentes grávidas e o assustador crescimento da prostituição infantil. E ninguém pode culpar os livros por esta situação: afinal, não se reclama que os jovens não leem? A partir dessa constatação, pode ser interessante virar a questão pelo avesso, pensar se o que se precisa não é, exatamente, discutir à luz do dia – isto é, na sala de aula e nas salas de jantar – cenários de sexualidade. Pois sexualidade não é apenas uma questão de biologia, de aparelho reprodutor e de hormônios. É uma questão de como se orquestram os hormônios e o que a sociedade constrói em torno da reprodução.

A história parece mostrar que quando estas práticas da sexualidade não encontram espaço arejado de discussão – como pode oferecer a arte a literatura na escola e na família – elas migram para uma atmosfera viciada do interdito que nada ajuda a formação do jovem. Um trecho do diário de Gilberto Freyre ilustra o que quero dizer: (...) quando eu tinha 8 anos, em vez de ler somente o Tico Tico, lia também, indevidamente, O Malho. Um dia encontrei n´O Malho, na legenda de uma caricatura, a palavra “meretriz”. Perguntei àqueles dois: “que é meretriz”? Nenhum deles respondeu. Mas os dois – meu Pai e meu Tio Tomás – riram alto, deixando-me atrapalhadíssimo. Nós todos, pais e mestres, educadores em geral, precisamos escolher: vamos discutir o que é meretriz? Ou vamos esconder melhor os volumes de O Malho? Ou vamos até pedir que a publicação seja suspensa? Com a palavra, cada um de nós. E, para ajudar na reflexão, um belo texto do professor Antonio Cândido, parte de uma conferência feita na SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) em 1972, com o qual se encerram estas mal traçadas:

A literatura pode formar, mas não segundo a pedagogia oficial que costuma vê-la ideologicamente como um veículo da tríade famosa – o Verdadeiro, o Bom, o Belo – definida conforme os interesses dos grupos dominantes, para reforço de sua concepção de vida. Longe de ser um apêndice da educação moral e cívica (esta apoteose matreira do óbvio, novamente em grande voga), ela age com o impacto indiscriminado da própria vida e educa como ela, com altos e baixos, luzes e sombras. Daí as atitudes ambivalentes que suscita nos moralistas e nos educadores, ao mesmo tempo fascinados pela sua força humanizadora e temerosos de sua indiscriminada riqueza. E daí as duas atitudes tradicionais que eles desenvolveram: expulsá-la como fonte de perversão e subversão ou tentar acomodá-la na bitola ideológica dos catecismos. (...) Dado que a literatura, como a vida, ensina na medida em que atua com toda sua gama, é artificial querer que ela funcione como os manuais de virtude e boa conduta. (...) Ela não corrompe nem edifica, portanto; mas, trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo porque faz viver.

PORTAL APRENDIZ, 13/08/2010
Melhorar educação depende de professor, proposta pedagógica e infraestrutura, diz Unicef


Rafael Carneiro da Cunha

Garantir qualidade para a educação requer atividades específicas para ensino de português e matemática, formação de professores e infraestrutura para aulas e atividades. As sugestões são do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que produziu o relatório Caminhos do Direito de Aprender, divulgado em julho. “A educação no Brasil é uma equação que tem muitas variáveis e que devem ser cuidadas todas ao mesmo tempo”, afirma a coordenadora de projetos de educação do Unicef no Brasil, Maria de Salete Silva, uma das responsáveis pelo relatório. O relatório analisou experiências de escolas de 26 municípios que conseguiram aumentar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) entre 2005 e 2007.

Todas as escolas apresentadas dão prioridade à leitura e à escrita e procuram atender às necessidades específicas de cada aluno, explica Maria de Salete. Além disso, elas ofereceram programas de formação de professor e se preocuparam em criar um ambiente ideal para a aprendizagem, onde os alunos tenham prazer ao frequentar o colégio. “Ainda tem muito professor que só tem o magistério, que não é o suficiente, por exemplo, para dar aulas nos ensinos infantil e fundamental. Em contrapartida, há também uma falha nos cursos de formação superior, pois eles não são tão próximos à realidade das escolas”, ressalta.

Maria de Salete considera que as escolas ainda precisam compreender melhor suas práticas pedagógicas, trabalhar as características culturais em que estão inseridas, aumentar a permanência do aluno no ambiente escolar e trabalhar em conjunto com município, estado e federação. “Eu acredito que a preocupação das escolas com índice abaixo da média nacional não deve ser em atingir essa média, mas ultrapassar o último índice obtido”, diz. Um dos municípios citados no relatório é o de Barra de Santo Antônio (AL), que teve um Ideb de 2,6 em 2005 e passou para 2,7 em 2007. Apesar de ter alcançado a meta de 2007, o Unicef reconhece que ainda falta muito para que o resultado da escola seja comemorado, pois ainda não há uma clareza da importância do Ideb. Outro exemplo é o município de São Cristóvão (SE), cujo Ideb para os anos iniciais do ensino fundamental saltou de 2,5 em 2005 para 3,0 em 2007. Para a prefeitura é preciso envolver mais os pais e a comunidade no processo de aprendizagem, de acordo com o relatório. Ideb - O Ideb foi criado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e reúne em um só indicador o fluxo escolar e a média de desempenho dos alunos nas avaliações. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar e nas médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) – para os estados e a união – e na Prova Brasil para os municípios. Especial Eleição 2010 - De 23 a 27 de agosto o Portal Aprendiz trará um especial sobre as eleições deste ano. Serão abordadas as propostas relacionadas à educação dos quatro principais candidatos à Presidência da República. Assuntos como a criação do Sistema Nacional Articulado, ensino médio aliado ao ensino técnico, orçamento para educação, piso salarial e plano de carreira para os profissionais da educação serão abordados com candidatos ou seus representantes da área da educação. A semana especial terminará com uma reportagem que buscará analisar os programas dos presidenciáveis a partir de entrevistas com representantes de organizações e especialistas que trabalham com educação.

PORTAL UOL EDUCAÇÃO, 12/08/2010
Sem trabalho, há uma geração perdida da América Latina

Verónica Calderón Madri (Espanha)

O rosto da América Latina é jovem: 19,5% de sua população têm entre 15 e 24 anos, índice somente superado pela África (20,3%), e é a única região do mundo cuja juventude experimenta um crescimento sustentado. Mas seu panorama não é alentador. Na Ibero-América (América Latina, Espanha e Portugal) há cerca de 150 milhões de jovens, dos quais 45% - aproximadamente 68 milhões - estão desempregados, segundo um estudo da Organização Ibero-americana da Juventude (OIJ). Cerca de 105 milhões estão na América Latina. "Os jovens são invisíveis para a sociedade", afirma o chileno Eugenio Ravinet, presidente da OIJ. "Salvo raras exceções, não existem políticas sociais voltadas especificamente para eles."

Uma prova de que não há políticas concretas é a falta de um critério claro para definir quem é jovem. Para a OIJ, são as pessoas entre 18 e 29 anos. Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a ONU, a faixa vai de 15 a 24 anos. Noventa por cento dos jovens do mundo vivem em países em desenvolvimento, indica um relatório da OIT. "O jovem está desprotegido pelas políticas sociais. O primeiro suspeito de um crime costuma ser o jovem. O chefe que vai contratar desconfia antes de um jovem. O índice de desemprego entre os jovens é o dobro ou em alguns casos o triplo da média nacional, e nenhum país empreendeu uma reforma trabalhista que enfrente o assunto", descreve Ravinet. Um estudo elaborado em 2007 pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e a OIJ detalha os índices de desemprego em cada país latino-americano, mas explica que as estatísticas variam de acordo com o ano em que foram coletadas (uma margem de até cinco anos) e que os números são enganosos. A região tem um dos índices mais altos de subemprego ou emprego informal entre os jovens. As economias latino-americanas, que não têm a proteção social dos países europeus, deixam seus jovens "sem a oportunidade de sair de sua situação", salienta Ravinet.

A OIT detalha que no México, Colômbia, Equador, Panamá e Peru 82,4% dos adolescentes (entre 15 e 19 anos) tinham um emprego informal, número significativamente mais alto que os 50,3% dos adultos (entre 30 e 64 anos) na mesma situação laboral. "Os jovens são o setor mais vulnerável aos trabalhos irregulares, com o salário mais baixo", comenta Ravinet. E a falta de oportunidades é diretamente proporcional à pobreza. O desemprego entre a população jovem pobre é 19% maior que nas classes média e alta. As mulheres têm uma situação ainda mais difícil. O desemprego entre a população feminina é, em alguns casos, até 10% superior ao masculino. Além disso, a América Latina é a única região do mundo onde o índice de fecundidade entre as adolescentes continuou aumentando nos últimos 30 anos: 7,3% das gravidezes na região ocorrem em jovens entre 15 e 19 anos. Na Europa o índice é de 2,8% e em todo o mundo, 4,8%. "O machismo na região afeta particularmente as mulheres", comenta Ravinet.

Outro dado alarmante é a quantidade de jovens latino-americanos que não estudam nem trabalham: um em cada quatro, segundo o relatório da OIJ e da Cepal. "As consequências de uma juventude sem oportunidades são muito graves", afirma Ravinet. O estudo divulgado pela OIT concorda. "A incapacidade de encontrar emprego cria uma sensação de impotência e inação entre os jovens, que pode conduzir a um aumento da criminalidade, dos problemas de saúde mental, da violência, conflitos e consumo de drogas", diz o relatório. O maior problema, afirma Ravinet, é o ceticismo diante da juventude. "Acredita-se que os jovens não se interessam pelo futuro, que são apáticos, não desejam se envolver nas decisões, e é mentira. O desejo de um jovem é muito simples: ter um emprego e que seu governo não o abandone. Há necessidade urgente de programas que fomentem a capacitação, o contato com as novas tecnologias. Para cuidar da juventude, não basta organizar uma partida de futebol ou um show de rock."

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
 

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