26/11/2010 - CLIPPING EDUCACIONAL

NOTÍCIAS – FIQUE POR DENTRO



FOLHA ONLINE - 25/11/2010

Mercado de trabalho aquecido não tira jovens da escola, diz pesquisa 

FABIANA REWALD DE SÃO PAULO

Diferentemente do que se imagina, o aquecimento no mercado de trabalho não é um fator importante para elevar a evasão entre os estudantes de ensino médio brasileiros. Essa foi uma das conclusões da pesquisa "Os determinantes do fluxo escolar entre o ensino fundamental e o ensino médio no Brasil" --realizada por pesquisadores da FGV (Fundação Getulio Vargas) a pedido do Instituto Unibanco. "Não encontramos correlações estatisticamente significantes entre fluxo escolar e aquecimento do mercado", afirmou o pesquisador André Portela Souza. O estudo em si não traz explicações para esse resultado, mas há algumas hipóteses. Uma delas é que, com o mercado aquecido, o jovem percebe a importância de ter uma boa qualificação --e, portanto, de continuar estudando-- para conseguir um salário mais alto no futuro. Outra possibilidade é que, com o aumento da renda familiar, o adolescente seja mais estimulado pelos pais a não trocar os estudos por um trabalho em tempo integral --e, poder assim, contribuir mais fortemente com a renda familiar. O trabalho usou dados da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que não permitem determinar se os estudantes que continuaram na escola estão trabalhando ao mesmo tempo, em outro período do dia.

Outro resultado encontrado pelo trabalho foi que o fato de o aluno ser aprovado ou não ao final do ano deixou de ser tão importante em sua decisão de continuar os estudos de ensino médio. Entre os anos de 2008 e 2009, do total de alunos aprovados, 97% se mantiveram na escola. Entre os não aprovados (parcela que inclui reprovados e estudantes que deixaram o colégio e depois retornaram), 94% se mantiveram estudando. Os principais determinantes para a aprovação e continuação dos estudos são as características individuais e familiares do jovem. O maior sucesso nos dois casos se dá entre mulheres, que não estão  atrasadas em seus estudos, que têm pais com alta escolaridade e moram com ambos e, ainda, cuja escola é de qualidade.

O Instituto Unibanco também encomendou uma pesquisa complementar à da FGV para determinar a relação entre o desempenho no ensino fundamental e posterior abandono no ensino médio. A principal conclusão é que o baixo desempenho dos alunos no ensino fundamental é muito ligado à evasão no ensino médio. A pesquisa "Relação entre abandono escolar no ensino médio e desempenho escolar no ensino fundamental" foi feita apenas com base no Saresp, exame de português e matemática obrigatório nas escolas da rede estadual paulista. Outro fator que se mostrou importante foi o atraso nos estudos. Quanto maior a distorção entre a idade do aluno e a série em que ele está, maior a probabilidade de ele largar a escola, após ingressar no ensino médio.

ESTADO DE MINAS - 26/11/2010 - BELO HORIZONTE (MG)
Baixo desempenho e idade têm impacto no ensino médio 

Glória Tupinambás Enviada especial 
 

São Paulo – Pesquisas revelam os principais fatores que prejudicam alunos no ensino médio do Brasil: o baixo desempenho no ensino fundamental e a idade maior do que a esperada para a série (defasagem idade-série). Os dados foram apresentados ontem, na capital paulista, pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pela Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace) de Ribeirão Preto. Segundo o levantamento, 30% dos estudantes com as piores notas no nível fundamental sequer se matriculam no ensino médio. Entre os alunos com os melhores desempenhos, o índice de evasão cai para 3%. Hoje, os números serão analisados e comentados por especialistas em educação durante o seminário Como aumentar a audiência no ensino médio?, promovido pelo Instituto Unibanco.

A pesquisa, feita com jovens de escolas públicas e particulares de seis regiões metropolitanas do país, incluindo a Grande Belo Horizonte, mostra ainda que, chegar tarde ao ensino médio, tem um impacto extremamente negativo no futuro escolar dos estudantes. De cada 100 alunos que se matriculam no nível médio acima da idade recomendada (14 ou 15 anos), 16 abandonam a escola antes de completar os estudos. Já entre os sem defasagem idade-série, apenas nove desistem. O levantamento ainda revela que os atrasados tendem a abandonar a escola no meio do ano letivo, deixando a sala de aula sem concluir a série que estão cursando. Isso faz com que o tempo necessário para que eles terminem os estudos seja ainda mais longo.

A belo-horizontina Nayara Peçanha, de 18 anos, é prova concreta do impacto do atraso escolar no ritmo de estudos. Depois de uma reprovação no 7º ano do ensino fundamental, ela conta que sua trajetória nunca mais foi a mesma. “Fiquei desmotivada para repetir o ano. Para piorar, comecei a trabalhar e tive dificuldades de conciliar com os estudos. Num momento de desespero, joguei tudo para o alto”, conta Nayara, cheia de arrependimento. Hoje, matriculada no 1º ano do ensino médio na Escola Estadual Professor Francisco Brant, no Bairro Caiçara, ela tenta recuperar o tempo perdido. “Sei que essa parada na escola me prejudicou muito, mas estou animada novamente com os estudos e vou lutar pelo meu sonho: cursar uma faculdade de medicina.”

Os dados da pesquisa reacendem a polêmica sobre a reprovação escolar. “Combater a repetência é uma estratégia necessária para evitar a evasão. Mas isso não significa aprovar um aluno a qualquer custo. Ele precisa aprender, ou seja, não pode deixar de adquirir as habilidades mínimas para a idade e a série em que está matriculado”, explica o pesquisador da Fundace, Amaury Gremaud. A superintendente executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel, ainda reforça: “O antídoto para a reprovação não é a progressão automática. Essa prática já se mostrou ineficaz e é culturamente rejeitada pelos professores”, diz Wanda. A doutora em educação defende que a distorção idade-série seja combatida no ensino fundamental, com investimentos na qualidade da educação básica.

Outra conclusão importante da pesquisa é que conseguir terminar o ensino médio nos três anos regulamentares não é tarefa fácil nem mesmo para os que ingressam nesse nível de ensino na idade correta. Apenas 45% dos alunos nessa situação completam os estudos no tempo previsto. Por último, o estudo ainda ajuda a derrubar mitos sobre a evasão na escola: o principal deles é o fato de os jovens abandonarem os estudos para trabalhar. Para o pesquisador da Fundação Getulio Vargas, André Portela Souza, a explicação para esse fenômeno é simples: “Se o mercado de trabalho valoriza a educação e a formação do profissional, o jovem fica na escola. Nesse caso, ele vê nos estudos uma expectativa de melhoria de salário. Outra hipótese é que o aquecimento da economia melhore a renda familiar e o fato de os pais ganharem mais tem impacto positivo na frequência escolar dos filhos”, conclui. A repórter viajou a convite do Instituto Unibanco.

 

GAZETA DE CUIABÁ - 26/11/2010 - CUIABÁ (MT)
O sentido da leitura


Elias Januário

Estimado leitor, hoje vamos retomar um importante tema da área da educação que trata da leitura, mas na perspectiva do seu sentido, de como devemos proceder no ensino da leitura e consequentemente da escrita, que ocorrem principalmente no processo de formação de professores em nosso país. Nas reflexões por nos formuladas nas discussões desse texto, vamos tomar como referência as considerações há muito tempo problematizadas pela educadora argentina Delia Lerner, que tem se destacado no cenário mundial pela atuação intensa e abrangente em diferentes níveis de ensino. Nossa primeira questão passa pela pelo fato sintomático de que é tão difícil formar leitores e, essa situação se agrava, quando nos direcionamos para um público específico, como é o caso dos países da América Latina, em particular em regiões com menor Índice de Desenvolvimento Humano.

O que tem acontecido ao longo do tempo é que a tarefa de ensinar o gosto e até a leitura tem ficado a cargo exclusivamente da escola, que tem outras competências a serem ensinadas aos estudantes, tão importante quanto à leitura. Muitos estudantes vão ter acesso a textos literários quando chegam à escola. Quando esse processo deveria começar em casa e ser aprimorado na instituição escolar. Os pais devem ler histórias para os filhos, fazer comentários de noticiários de jornal e deixar à disposição das crianças livros e revistas educativas para que eles possam manusear. Com isso estarão estimulando nas crianças e adolescentes o gosto pela leitura e a possibilidade cada vez mais concreta de que essa criança venha a ser um futuro leitor.

Para Delia Lerner, quanto mais cedo se começar o aprendizado da leitura, melhor para a criança e para o seu futuro como leitor. Por isso é preciso ler para a criança, para que ela seja estimulada e prossiga no futuro com o gosto pela leitura e como resultado disso com uma escrita mais primorosa. Em meio a nossa sociedade, ainda que não perceptível, existem comunidades de leitores. E nós pertencemos a mais de uma delas, como por exemplo, de uma revista semanal, de um determinado autor, de certo jornal, entre outras. Essas comunidades são importantes para estabelecermos relações e debatermos sobre os assuntos que estão sendo lidos, as novas tendências, onde encontrar material bom e acessível para aquisição.

Um dos grandes gargalos da leitura estabelecida no contexto escolar está no fato de que, a leitura que a escola recomenda e até exige que seja lida, acaba se transformando em algo enfadonho e que, na maioria das vezes, não conduz a formação de leitores no seu sentido amplo da palavra. Dessa forma, é preciso que a escola se abra para um movimento mais flexivo e reflexivo no sentido de possibilitar o acesso dos estudantes a materiais diversos para leitura, de forma que as pessoas sintam-se atraídas pelos temas e se deixem levar pelo prazer de ler e aprender. Reservar tempo para a leitura na matriz curricular das instituições escolares e do cotidiano das famílias é sem dúvida uma forma de contribuir para que as crianças e adolescentes avancem significativamente no processo de aprendizagem, fazendo do momento literário um meio importante de construção do conhecimento.

 

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/11/2010  
A questão étnico-racial na educação do país 

É preciso considerar quem são os leitores e que efeitos de sentidos, usos e funções serão atribuídos a uma determinada obra literária na atualidade

ANTONIO CARLOS C. RONCA, FRANCISCO APARECIDO CORDÃO e NILMA GOMES 

O Conselho Nacional de Educação (CNE) tem função normativa e é sua atribuição, como órgão de Estado, pronunciar-se sobre temas relativos à educação nacional. A questão étnico-racial é um desses temas.
Recentemente, a Câmara de Educação Básica (CEB) aprovou, por unanimidade, o parecer CNE/CEB nº 15/2010, com orientações quanto às políticas públicas para uma educação antirracista, no qual faz referência ao livro "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato.


O referido parecer foi elaborado a partir de denúncia recebida, e no seu posicionamento apresenta ações e recomendações; dentre estas, reafirma os critérios anteriormente definidos pelo MEC para análise de obras literárias a serem adotadas no Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Em nenhum momento a CEB cogitou a hipótese de impor veto a essa obra literária ou a outra similar, impondo qualquer forma de censura, discriminação e segregação, seja com relação a grupos, segmentos e classes sociais, seja com relação às suas distintas formas de livre criação, manifestação e expressão. O CNE entende que uma sociedade democrática deve proteger o direito de liberdade de expressão e, nesse sentido, não cabe veto à circulação de nenhuma obra literária e artística. Porém, essa mesma sociedade deve também garantir o direito à não discriminação, nos termos constitucionais.


Reconhecendo o importante valor literário da obra de Monteiro Lobato, especificamente do livro "Caçadas de Pedrinho", mas também sendo coerente com todos os avanços da legislação educacional brasileira, o parecer discute a presença de estereótipos raciais na literatura e apresenta sugestões e orientações ao MEC, à editora e aos que atuam na formação de professores. Uma dessas orientações é a de que a editora tome o mesmo cuidado em relação à temática étnico-racial como o que já foi adotado em relação à questão ambiental no livro, sugerindo a inclusão, na apresentação, de uma nota de esclarecimento, a fim de contextualizar a obra, sem perder de vista o seu valor literário. Mais do que focar a análise no autor em si, o que está em questão é colocar em pauta a necessária discussão sobre a temática étnico-racial na educação e sua efetivação como política pública. O CNE está aberto ao debate. A repercussão do seu posicionamento revela o quanto ainda é preciso falar sobre a questão racial e discutir formas de superação do  racismo e o quanto esse é um tema de interesse nacional. Os receios, as ressalvas e os apoios feitos ao parecer são compreendidos pelo CNE, especialmente no que tange à necessidade de se contextualizar obras clássicas. Entendemos que, assim como é importante o contexto histórico em que se produziu a obra, tão ou mais importante é o contexto histórico em que se produz a leitura dessa obra. É preciso considerar quem são os leitores e que efeitos de sentidos, usos e funções serão atribuídos a determinada obra na atualidade. A obra permanece, mas os leitores e a sociedade mudam. É em função desse novo contexto que cabe, sim, interrogar em que condições a sociedade e, sobretudo, a escola lerão obras produzidas em momentos nos quais pouco se questionava o preconceito racial e o racismo. O propósito central do parecer e do CNE é, portanto, pautar a questão étnico-racial como tema relevante da educação nacional. ANTONIO CARLOS CARUSO RONCA é presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE). FRANCISCO APARECIDO CORDÃO é presidente da Câmara de Educação Básica do CNE.

NILMA GOMES é a relatora do parecer nº 15 da Câmara de Educação Básica do CNE.
 

FOLHA DIRIGIDA - 23/11/2010 - RIO DE JANEIRO (RJ) 
O abismo que separa a educação de brancos e negros 

Paola Azevedo 

No último dia 20 de novembro foi celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra. O feriado foi criado para relembrar a morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, que lutou pela resistência do acampamento e pela libertação dos escravos. Mais que uma celebração, a data é uma oportunidade a mais de reflexão sobre as condições de inserção social e acesso à cidadania do povo negro no país. Embora não sejam poucas as tentativas de acabar com as diferenças entre negros e brancos, é notória a discrepância nas oportunidades de ensino entre estes dois segmentos da sociedade. E, no último dia 18, uma pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea) apresentou, em números, o que já é possível constatar a partir de uma observação mais atenta nas escolas particulares e universidades, principalmente nas mais disputadas, onde as vagas, em sua maioria, são preenchidas por alunos brancos.

Intitulado "Comunicado 66", o estudo, feito com base na PNAD 2009, propôs uma análise da evolução da educação no Brasil entre 1992 e 2009 e revelou quadros detalhados da atual situação da escolarização da população brasileira. Entre os dados colhidos, é possível constatar que a raça é um fator que pesa em relação ao acesso às oportunidades educacionais. O levantamento mostrou que, quanto ao tempo médio de escolarização, a população negra tem, em geral, menos um ano e sete meses de tempo de estudos, em comparação com a população branca. Considerando-se que o mesmo Ipea mostrou, em várias pesquisas, que cada ano na escola gera perspectivas maiores de remuneração no mercado de trabalho, este é um dado que, por si só, já mostra o tamanho das barreiras que a população negra enfrenta para alcançar ascensão social.

Mas, a distância é ainda maior, em outros indicadores. No Brasil, a taxa de analfabetismo era de 9,7%, em 2009. O indicador já é ruim, em especial porque supera o registrado, até mesmo, em países como da própria América do Sul, como Equador, Chile e Argentina. Mas, entre os negros com 15 anos ou mais, o quadro é ainda pior: 13,4% deste contingente não sabe ler e escrever e escrever um simples bilhete. Entre os brancos, o percentual é de 5,9%.


Diferenças menores na Educação Infantil e no ensino fundamental - Na população de 15 a 17 anos, público potencial do ensino médio, a diferença no acesso também é marcante. Enquanto 60,3% dos brancos frequentam a escola, no caso dos negros, esta taxa é de 43,5%. Já na faixa de idade de 18 a 24, período, em tese, mais adequado para o ensino superior, os brancos representam 21,3% e os negros 8,3%. "A sociedade brasileira é uma das mais desiguais do mundo em que há uma distância maior entre os poucos que têm a maioria dos recursos produzidos e a grande maioria que produz mas é marginalizada nos resultados. E isso se aplica ao conjunto da sociedade e faz surgir esta diferença. A marginalização da população de modo geral, afeta, especificamente, os negros, por conta de não pertencerem à parte privilegiada da população", afirma o filósofo e doutor em filosofia da Educação da PUC-SP e professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Dermeval Saviani.


Para o estudioso, o fato de o negro ter maiores dificuldades no acesso à educação está diretamente ligado à sua condição socioeconômica. O dado é sustentado pelo diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Jorge Abrahão, responsável pela pesquisa. "O perfil da população com menor escolaridade é rural, pobre, negra e localizada no Nordeste e nas periferias dos grandes centros; é um pouco do perfil da pobreza no Brasil. Ou seja, se confrontarmos os dados, veremos que as duas coisas estão ligadas. Apenas no quesito raça é que a situação tende para o lado da discriminação", destaca Jorge Abrahão. No caso da Educação Infantil, as diferenças são menos acentuadas. O acesso às creches das crianças entre zero e três anos também é desigual, porém próximo, entre crianças brancas e negras: 19,9%, contra 16,6%, nesta ordem. O mesmo ocorre na educação de 4 a 6 anos. Neste caso, a diferença é pouca, mas há mais restrição para os negros (80,1%) do que entre os brancos (82,6%). Entre os que possuem 7 a 14 anos, público potencial do ensino fundamental, que está praticamente universalizado no Brasil (98% dos brasileiros, com esta idade, está matriculado), também não há grandes disparidades quando comparados sob as éticas regional, de localização, de gênero, raça ou cor e de renda, de acordo com o estudo.
 

Adoção de cotas raciais é saída que divide opiniões


A boa notícia é que a velocidade na redução da taxa tem sido maior para os negros, em média 0,76 ponto percentual ao ano contra 0,27 para os brancos. Além disso, a pesquisa mostrou que houve uma queda na taxa de analfabetismo. Ainda que lenta, a baixa tem sido constante. De 1992 até 2009, a taxa foi reduzida em 7,5 pontos percentuais. No período pesquisado houve também uma ampliação de cerca de 0,14 ano de estudo em média. No entanto, a população negra ainda está longe de ter acesso pleno à educação de qualidade. Para Frei Davi, diretor da ONG Educafro (Educação e Cidadania de Afro-descendentes e Carentes), a única forma de garantir isto é por meio de políticas que compensem as desigualdades. Em sua visão, a razão para essa diferença no ensino é cultural. "A primeira dificuldade é que, a grande maioria dos negros, crescem em famílias onde os pais não tem tradição cultural de universidade e seus filhos, em consequência, não focam a formação superior como prioridade. Nenhuma nação do mundo conseguiu resolver 388 anos de escravidão sem criar políticas públicas compensatórias", argumentou o educador que, por isto, defende os sistemas de cotas. "Quando saímos, há dez anos, lutando para criar cotas para os negros na universidades do Brasil, é porque tínhamos e temos a consciência de que este é o único caminho."

Dermeval Saviani, no entanto, discorda da adoção de cotas como forma de minimizar as diferenças entre população negra e branca. "A correção dessas desigualdades passa pela abertura da sociedade, de modo a que a participação nos bens produzidos no conjunto da população seja decentemente ampliada. Passa também pela educação, pelo acesso, mas também por uma educação que busca remover os preconceitos que estão cristalizados a partir dessa história. A política de cotas é válida como uma situação transitória."

Saviani defende um sistema nacional de educação, coordenado pela União e assumido, em conformidade com a Constituição, pelos vários entes federativos. "A transferência da educação básica de estados para municípios eu considero negativa. A educação básica é uma questão fundamental que deve ser assumida pelo país em seu conjunto como um problema nacional e sendo nacional, coordenado pela União. Isso ajudaria na inclusão dos negros para a educação, seria fundamental", finaliza o especialista.


"Em 50 alunos, só eu e uma colega éramos negros", diz estudante - Discriminação é uma palavra que Luiz Henrique de Almeida Silva conhece de perto. Negro, pertencente à classe média, Luiz cursou toda sua vida escolar e acadêmica no ensino público. "Só consegui entrar na Uerj, na época, por varar as noites estudando enquanto trabalhava de dia", disse. E naquele tempo, já percebia as diferenças. "No curso de Ciências Econômicas, em 50 alunos apenas eu e mais uma colega éramos negros." Luiz Henrique, porém, traçou uma trajetória bem diferente da maioria dos negros no país. Contradizendo as expectativas impostas pela sociedade, egresso do ensino público, o estudante concluiu duas universidades pelo sistema estadual e hoje cursa a pós-graduação. Quanto às dificuldades de acesso, Luiz revela não ter tido, porém se sentia deslocado na sala de aula. "Eu era um peixe fora d'água ao estudar, 30 anos atrás, num lugar onde praticamente só a elite tinha acesso." Uma de suas conquistas foi também o serviço público, o sonho de muitos estudantes até hoje. "Passei para dois concursos públicos e nesses lugares o preconceito era bastante forte, principalmente em relação a um negro que 'invadia' o espaço das elites brancas", revelou Luiz, completando que, em um deles, em meio a 70 funcionários, ele era o único negro.


Hoje, além do curso de pós-graduação em Jornalismo Cultural pela Uerj, Luiz se dedica à sua grande paixão: o jazz, assunto o qual estuda há 30 anos e dá aulas e palestras. O caminho traçado por Luiz Henrique é a prova de que é possível obter sucesso, mesmo em condições menos favoráveis. "Olhando para o passado, vejo que consegui chegar aonde a maioria dos meus colegas do ginásio não chegaram, mas para isso foi necessário muitas noites acordado estudando e coragem para arriscar quando a vida profissional tendia a acomodação", avaliou Luiz.


FOLHA DE SÃO PAULO - 23/11/2010
Professores da USP criam graduação

Fundação dirigida por docentes ligados a curso público de administração vai cobrar R$ 2.200 mensais em nova turma. Sindicalista vê conflito ético; representante de entidade afirma que iniciativa fortalece universidade pública

FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO

Criada por professores da USP (Universidade de São Paulo) para dar apoio à instituição, a FIA (Fundação Instituto de Administração) oferecerá a partir de 2011 um curso particular de graduação em administração, com mensalidade de R$ 2.200. A novidade é criticada. Há o temor de que haja prejuízo ao curso público da USP, pois a maioria dos dirigentes e parte dos professores da FIA são da FEA (Faculdade de Economia e Administração), da universidade. "Já há pouco comprometimento de alguns docentes com a nossa graduação. Há muitas faltas. Pode piorar, porque alguns deles também estão hoje na FIA", afirma Maíra Madrid, diretora do centro acadêmico da FEA. O presidente do sindicato dos docentes da universidade, João Zanetic, sustenta que há um conflito de interesses na criação da faculdade privada. "Por que os dirigentes da FIA que criaram curso que poderá ser até melhor do que o da FEA não fizeram o mesmo pela USP? A FIA fez nome em cima da USP. Agora ela cria um curso concorrente. Há um problema ético", afirma Zanetic. EXPERIÊNCIA - O diretor acadêmico da FIA, James Wright -que também é docente da USP- discorda das críticas. Para ele, a relação entre as instituições é benéfica à USP. Segundo Wright, a maioria dos docentes mais bem avaliados da FEA nos processos internos da USP atuam também na FIA. "Professores adquirem experiência em empresas e depois repassam aos alunos." Ele diz que o próprio curso da FIA ajudará o da FEA. "O processo de gestão poderá ser usado na USP."

POLÊMICA - A fundação foi criada em 1980 para agilizar pesquisas e prestação de serviços feitas por docentes da FEA. Possuía até USP em seu nome. Depois, ganhou espaço com cursos de pós-graduação e extensão, todos pagos. Parte dos recursos eram -e ainda são- revertidos para a faculdade da USP. Para o sindicato dos docentes, a fundação usava a marca e a estrutura da USP para atrair recursos. Depois dessa polêmica, em meados da década, a FIA decidiu retirar a USP do seu nome.

Colaborou JOSÉ ERNESTO CREDENDIO


FOLHA DIRIGIDA - 19/11/2010 - RIO DE JANEIRO (RJ)
Avançar mais. muito mais! 

Terezinha Saraiva

Não gosto de fazer comentários a partir de rankings, na área da educação. Já o disse em outros artigos, porque não parece justo elaborar rankings, envolvendo países com características tão diversas, envolvendo resultados de avaliações entre países com sistemas de ensino tão diferentes que se torna difícil estabelecer comparações. Penso que os rankings devem ser analisados, estudados, com certa reserva, porque resultam de corrupções de índices, de notas, entre países e alunados que guardam, entre si, significativas diferenças. Mas é impossível não comentar a matéria divulgada pela mídia, com o seguinte título: "Educação freia avanço do Brasil em ranking da ONU." A notícia informa que o Brasil subiu quatro posições no IDH, das Nações Unidas, passando do 77º para o 73º lugar no ranking global entre 169 países. O IDH brasileiro, calculado sob a nova metodologia adotada pelo PNUD, passou de 0,693 para 0,699. Todos sabem que a escala varia de 0 a 1 e que, quanto mais próximo de 1, melhor é o IDH. O que mudou na fórmula para calcular o IDH, em relação aos anos anteriores?

No quesito renda, passou a utilizar a renda disponível, que inclui doações internacionais, em vez da renda bruta per capita. No quesito educação, a mudança foi maior. Até então, o IDH considerava a taxa de analfabetismo e a taxa de matrícula nos ensinos fundamental, médio e superior. Agora, esses indicadores foram substituídos pela média de anos de estudo de quem tem mais de 25 anos e pelo critério "anos de estudo esperados", que projeta qual será a escolaridade média nos próximos anos, levando em conta fatores como repetência e evasão, para as crianças matriculadas hoje. Por este novo critério, o Brasil tem hoje a mesma média de anos de estudo do Zimbábue, o país africano com o pior IDH do mundo. Com o novo critério para a educação, o Brasil fica em 88º lugar, recuando 15 posições no ranking geral, em relação ao anterior.


O relatório do PNUD faz uma avaliação do desenvolvimento nos últimos 40 anos e conclui que "a educação é uma barreira ao progresso do Brasil e é a mais grave privação imposta à nossa sociedade". É importante registrar que, segundo o Relatório, o Brasil melhorou em todas as dimensões do desenvolvimento: saúde, educação e renda. Apesar dos elogios aos inegáveis avanços do país, em 40 anos, o PNDU ressalta que a permanência de desigualdades históricas – como as de renda entre homens e mulheres – continua sendo um limitador do nosso desenvolvimento. O coordenador do Relatório, Flávio Comim, economista do PNUD, afirma que, no que se refere à educação, chama atenção o aumento dos anos médios de estudo; mas ainda restam desafios no que se refere à melhoria da qualidade do ensino. Os estudos realizados, a partir dos dados referentes à educação mostram que, embora tenhamos quase universalizado o ensino fundamental e ampliado as matrículas nos demais graus e etapas do ensino, não conseguimos melhorar sua qualidade.


Ficou evidente que a ampliação de matrículas não se traduz, necessariamente, em melhoria da qualidade. A média de escolaridade dos brasileiros é de 7,2 anos, quando 13,2 anos é considerado o ideal. Iniciei este artigo dizendo que não nutro simpatias por rankings, porque alguns critérios não me parecem os mais indicados. Por exemplo: ao considerarem dados da educação para quem tem mais de 25 anos, foram excluídos os investimentos realizados nesses 12 últimos anos, em que, além de ampliarmos significativamente o contingente de alunos na pré-escola, na educação de jovens e adultos, no ensino médio e superior, universalizamos o ensino fundamental, criamos o Fundef, posteriormente transformando no Fundeb, o Ideb, o ProUni. Embora essas medidas não tenham conseguido, ainda, ter reflexos na qualidade do ensino, que continua sendo nosso maior desafio, democratizamos o acesso aos vários graus e etapas de ensino, estabelecendo metas a serem atingidas.


Convivemos, sim, com algumas dificuldades que não são de hoje. São antigas e, por isto, mais preocupantes, porque permanecem sem solução, como a evasão, antes de completar sobretudo o ensino fundamental e médio; a repetência e a distorção série-idade causada, atualmente, pela repetência e não mais pela entrada tardia no ensino fundamental, como antigamente. Cerca de 16% das crianças de 9 anos estão no ano escolar inadequado – é um exemplo. Soma-se a essas dificuldades, a má qualidade do ensino ministrado e o baixo desempenho escolar dos alunos, sobretudo na Educação Básica. Enquanto patinarmos na educação; enquanto não tivermos um sistema de saúde eficiente a que todos tenham acesso; enquanto tivermos, alguns poucos milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza, o brasil não fará jus a um bom IDH e a uma posição melhor no ranking mundial.


Estas informações vinculadas pela mídia devem ter causado, no mínimo, surpresa à Presidente Dilma Rousseff, que num de seus primeiros pronunciamentos, depois de eleita, afirmou que a "educação não constitui prioridade para ela, pois a educação vai bem." Quem teria dado esta informação à Presidente eleita? Será que a Presidente nunca tomou conhecimento dos resultados obtidos por nossos alunos nas avaliações nacionais realizadas pelo Ministério da Educação e no Pisa – avaliação internacional? Será que nunca disseram à nossa Presidente que, enquanto o país não melhorar seu desempenho na área educacional, sobretudo da Educação Básica, com ênfase no ensino fundamental, o Brasil continuará a ser um país em desenvolvimento e, jamais, um país desenvolvido?


Penso que há tempo até 1º de janeiro de 2011, de informar à Presidente Dilma Rousseff sobre a situação educacional brasileira, desde a creche até a pós-graduação, lembrando a Sua Excelência que os responsáveis pela oferta e garantia da qualidade da Educação Básica são os sistemas estaduais e municipais de ensino. O Ministério da Educação, neste grau da educação traça normas e diretrizes, presta assistência técnica e financeira, mas não está em suas mãos a responsabilidade de garantir uma Educação Básica de qualidade para todos, com exceção da ministrada pelo Colégio Pedro II, Colégios de Aplicação das Universidades Federais e pelas Escolas Técnicas Federais. E sem um ensino fundamental de qualidade, extensivo a todos, que garanta que todos os alunos o concluam, tendo adquirido os conhecimentos, as competências e as habilidades que lhes permitem prosseguir seus estudos, todo o resto do sistema educacional brasileiro estará comprometido, e continuaremos sendo equiparados aos países mais atrasados do mundo, no quesito educação, do Índice de Desenvolvimento Humano. 


Observação: as notícias deste clipping são
meramente informativas, publicadas em jornais
diários. Portanto, não expressam a opinião do SINPEEM.


A DIRETORIA

CLAUDIO FONSECA
Presidente

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